Pais e filhos: assegurando o futuro financeiro da prole
Certa vez, recebi um comentário neste blog sugerindo-me que dedicasse mais artigos respondendo perguntas relacionadas a casos reais. Aceitei o desafio e a receptividade foi tão positiva que este será o terceiro post seguido publicado nesta linha.
Vejam abaixo mais uma questão enviada por um leitor.
“Tenho dois planos de previdência privada para meus filhos de 2 e 5 anos (VGBL – tabela regressiva), com taxa de administração de 3% a.a. Gostaria de saber se vale a pena resgatar agora os planos e aplicar em títulos do governo, com vencimento para 2024 atrelados ao IPCA (NTNB)?”
Como investir em e para seus filhos
Bem, podemos notar que, diferentemente dos dois últimos casos reais publicados, este não é relacionado a nenhum tipo de dívida. A dúvida é, basicamente, sobre decisão de investimentos. Estamos nos deparando com um, digamos, “problema bom”. O leitor já investe e quer melhorar a rentabilidade de sua aplicação.
Como sempre, decisões sobre investimentos de longo prazo trazem um alto grau de incertezas. Mas vamos refletir sobre o assunto, com o que temos de informação hoje.
Investimentos em previdência privada possuem duas principais vantagens: 1) ajudam na disciplina quanto a poupar dinheiro todo mês: esse é um efeito psicológico que auxilia muitas pessoas que não fariam tal poupança de longo prazo de outra forma; 2) a administração do dinheiro é realizada por profissionais que, em tese, teriam maior capacidade de escolher bons investimentos, dentro das regras que regem aquele fundo de previdência.
Porém, não precisa ser um especialista para verificar que, de maneira geral, os fundos de previdência privada (principalmente aqueles atrelados a investimentos em renda fixa) não apresentam rentabilidades tão animadoras. Um VGBL (renda fixa) de um grande banco que consultei, com taxa de administração também de 3% ao ano, apresentou rentabilidade de 8,75% nos últimos 12 meses. Modesto, não?
Portanto, creio que uma primeira atitude do nosso leitor seria verificar qual está sendo a rentabilidade dos últimos anos, da previdência que está fazendo para os filhos. Realizada tal consulta, talvez existam outras possibilidades, como a aventada por ele próprio: NTNB Principal, vencimento 2024, que está oferecendo hoje uma rentabilidade de 5,54% + IPCA. Escolhendo uma corretora com taxa de administração convidativa (hoje existem corretoras em que a taxa é zero), tal investimento parece ser, a primeira vista, mais atrativo que a maioria dos fundos de previdência – para uma discussão mais aprofundada sobre rentabilidade em investimentos, consulte meu Especial Investimentos.
Porém, tenho algumas considerações a fazer, sobre tal aplicação sugerida pelo leitor:
1) A possibilidade de investir a uma taxa de 5,54% a.a+IPCA existe HOJE. Ao longo do tempo, ela irá variar conforme a economia for mudando;
2) Todo investimento tem risco. O relativo a essa modalidade de título público é a taxa de juro real subir com o passar do tempo. Suponhamos que após 5 anos uma NTNB esteja pagando 10%+IPCA. Será que aqueles que compraram o mesmo título a uma taxa de 5,54% a.a.+IPCA estarão felizes com algo que rende, em termos reais, a metade do que o mercado oferece? Certamente não. Por outro lado, se a taxa de juro real sofresse uma queda no futuro, quem possuísse este tipo de investimento estaria sorrindo à toa. Além disso, os títulos do governo são marcados a mercado, significando que haverá grandes flutuações em seu valor investido até 2024 (sim… em algumas situações você pode perder dinheiro em renda fixa. Veja como, no excelente blog O Pequeno Investidor).
Seria interessante que o leitor se aprofundasse na leitura de artigos relacionados aos títulos do governo, de forma a fazer uma “aposta” mais consciente. Basicamente, é buscar traçar um cenário econômico mais provável para os próximos anos e escolher um título que se adeque a essas expectativas (existem outras opções além da NTNB).
MINHA SUGESTÃO AOS PAIS
Apenas o ato de nosso leitor fazer uma poupança para os filhos já é louvável. A preocupação em obter uma maior rentabilidade então, mereceria uma medalha de honra ao mérito, quando o comparamos à média da população brasileira.
Quanto à minha sugestão, é bastante difícil indicar a melhor saída com tão pouca informação (e mesmo se eu tivesse todas, a incerteza sempre estaria presente), mas segue uma hipótese a ser analisada:
1) Pare de aplicar na previdência, caso a rentabilidade se mostre nos níveis que citei anteriormente. Porém, não mexa no dinheiro já investido. Espere certo tempo até que a tributação sobre a rentabilidade chegue a níveis aceitáveis. Ou a depender do valor aplicado, retire o dinheiro e aceite a perda relativa à mordida do leão. Vale lembrar que em VGBL a tributação se dá apenas nos rendimentos, o que talvez faça com que essa perda não seja tão significativa.
2) Pense na resposta à pergunta que farei a seguir.
Quem deveria aceitar menos risco: os pais, que precisam sustentar a família, ou os filhos, isentos de responsabilidades financeiras no presente?
Creio que o bom senso diz que a posição mais defensiva deverá ser a dos pais. Os filhos, como não necessitam desse dinheiro no momento, aceitariam mais risco em troca de maior rentabilidade. Logo, por que não traçar uma estratégia mais “arriscada” para eles? O grande mestre Gustavo Cerbasi disse em entrevista, certa vez, que faz poupança para os filhos comprando ações small caps (de alto risco). Ou talvez aceitar a sugestão tantas vezes propalada pelo meu amigo Henrique Carvalho, do Blog HC Investimentos, e investir parte do futuro dos filhos em ETF´s (clique aqui para saber mais).
3) Por fim, minha dica é montar uma carteira de investimentos mais agressiva para os filhos. Uma boa parte em renda variável e a outra em títulos do governo. Comprar vencimentos com prazos muito longos, geralmente não é tão adequado, dado que o risco torna-se maior à medida que diminui a previsibilidade. Mas é importante ficar atento, pois a depender dos fatos econômicos, outros títulos podem se tornar mais interessantes que a NTNB e, talvez, outras possibilidades em renda fixa (fundos imobiliários, por exemplo). O segredo é estar sempre de olhos bem abertos.
CONCLUSÃO
Do meu ponto de vista, o maior investimento que o amigo leitor poderá oferecer aos dois filhos é ensiná-los os conceitos de finanças pessoais que está aprendendo ao longo do tempo. Ao atingirem a maioridade, tendo os pais acumulado 100 mil ou 1 milhão de reais, o mais importante será que com uma sólida educação financeira, eles serão capazes de caminhar com as próprias pernas.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.