Quando o assunto é Finanças Pessoais, a matemática pode fazer papel de mocinho ou bandido, a depender de seu emprego. O bom uso dos números, por exemplo, pode estar relacionado a alguma decisão financeira em que, de antemão, certos cálculos podem ajudar na compreensão do fenômeno a ser estudado. Todavia, em diversos casos, a matemática é usada para “enganar” o consumidor. E é sobre um caso pessoal, de seu mau uso, que este artigo versa.
Dia desses fui comprar certo medicamento em uma das mais famosas redes de farmácia de minha região. Ao ser atendido no balcão e já com o medicamento em mãos, fui contemplado com um papelzinho alertando sobre as ofertas do dia. Dentre elas estavam discriminadas algumas marcas de desodorante, uma das quais tenho costume de usar, com 20% de desconto. Como em um pequeno espaço de tempo eu iria precisar comprar tal produto, decidi aproveitar a “promoção”.
Dirigi-me à prateleira onde o produto se encontrava e seu preço era de R$10,99. Logo, esperava eu pagar R$8,79, que seria o preço da prateleira, menos 20%. No entanto, chegando ao caixa, verifiquei na tela do computador que iria pagar R$10,39. Ressabiado, alertei à moça que talvez ela não tivesse considerado a generosa promoção, prometida a mim no balcão. Foi então, que muito gentilmente ela explicou-me: “todos os produtos da prateleira já estão com desconto de X%; porém, para calcular o preço de sua promoção, o sistema usa o valor do produto sem esse desconto”.
Voltei à prateleira e vi que o preço original (que talvez nunca tenha sido aplicado), escrito em letras que quase precisei de uma lupa para desvendá-las, era de R$12,99. Ou seja, quando vi o preço que era possível enxergar, os tais R$10,99, este já era um preço promocional – na verdade, verifiquei que todos os produtos da farmácia estavam em promoção, com letras diminutas.
Resumindo, o negócio funciona assim: quando recebo a oferta do dia no balcão, o preço que deverá ser pago é calculado sobre o valor sem o desconto (o das letras pequenas). Foi dessa forma que paguei os R$10,39, pois os 20% foram calculados sobre R$12,99, e não de R$10,99, que é o preço que realmente que o produto valia. Em uma matemática simples, é possível dizer que se eu pegasse o produto na prateleira, pagaria R$10,99, e com o meu desconto, acabei pagando R$10,39, o que implica em um desconto “verdadeiro” de 5,46% aproximadamente (e não de 20%).
Certamente, o gênio que bolou essa artimanha, a serviço da farmácia, iria me dizer: “não há enganação, pois se você tivesse lido as letrinhas miúdas, não teria dúvidas sobre o desconto a ser dado”.
Mas agora, pense comigo, caro leitor, ao invés de discutirmos se a intenção é de enganar ou não, lhe pergunto: no que essa estratégia, de oferecer desconto de 20% quando verdade é de 5,56%, beneficia ao consumidor? Eu lhe respondo: em nada. Certamente, muitas pessoas recebem as ofertas no balcão, compram algo que talvez nem precisassem, motivadas pelo “descontão”, mas na verdade apenas caíram na armadilha. E mais, quantos consumidores você acha que realmente percebem que não economizaram o que estavam pensando? Essa eu vou deixar para você mesmo responder.
Pois é! A engenharia de preços praticada por essa rede de farmácias não é privilégio único. Vemos aos montes produtos sendo vendidos de forma parcelada, com os dizeres: “sem juros”. Porém, se a pessoa comprar à vista, a loja dá um desconto (forma elegante de camuflar os juros embutidos).
Mas então seria a educação financeira dos consumidores uma saída para evitar tais enganações? Talvez sim. Mas que deveríamos ter alguma norma legal proibindo o abuso do mau uso da matemática nesses casos, ahhh… deveríamos.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!