Certo dia, Joãozinho possuía R$50,00 e com esse dinheiro conseguiria comprar 25 pirulitos, pois cada doce custava R$2,00. Porém, sua mãe, buscando educar financeiramente a criança, disse que se ele guardasse esse dinheiro por determinado tempo, ganharia mais R$10,00 adicionais. O intuito da genitora era criar uma noção de remuneração pela paciência em esperar, similar ao que acontece com aqueles que poupam dinheiro.
Passado o tempo estipulado, Joãozinho, todo contente, foi receber seu prêmio. Pegou seus agora R$60,00 e foi à padaria comprar os deliciosos pirulitos. Ao entregar todo o dinheiro à atendente, recebeu seu pacotinho repleto da guloseima e foi todo feliz para a casa. Chegando lá, contou a quantidade de pirulitos e percebeu que havia apenas 25 unidades (ou seja, a mesma porção que teria comprado com R$50,00 tempos atrás). Voltou furioso à padaria, mas logo descobriu que o preço do pirulito agora era de R$2,40. Frustrado, Joãozinho percebeu que todo aquele tempo, esperando os R$10,00 a mais, havia sido em vão, pois a espera não resultou em um aumento no consumo do doce.
Nesse caso, aconteceu a situação de Joãozinho se deparar com um aumento de preços igual à remuneração do capital. A mãe do garoto, que buscava ensinar a noção de juros, sem querer acabou mostrando ao filho os efeitos de uma importante variável macroeconômica: a inflação. A relevância desse indicador refere-se ao fato de que mesmo seu capital sendo remunerado na forma de investimentos, se a rentabilidade for, por exemplo, igual à da inflação, você simplesmente estará empatando o jogo. Fazendo uma analogia com a história de Joãozinho, o tempo passa e você continua comprando a mesma quantidade de pirulitos.
Expandindo tal análise para o contexto brasileiro, nesta última quarta feira (29/08/2012) nos foi dada a notícia de que a taxa básica de juros caiu para 7,5% ao ano. Essa é a menor taxa desde a criação da SELIC, em 1986. Portanto, configura-se como um novo cenário, com o qual os brasileiros não estão acostumados a lidar. A poupança, por exemplo, com as novas regras, vai render abaixo dos 6% ao ano. Supondo uma inflação próxima de 5%, é possível notar que estamos quase na situação de Joãozinho e seus pirulitos.
Todavia, a importância da relação juro/inflação é ainda mais complexa. Taxas de juros menores, em tese, implicam em maior potencial de crescimento econômico do país. Por seu lado, crescimento de demanda pode causar um aumento dos preços (inflação). Em um hipotético cenário, imagine que alguém faça hoje um investimento pré-fixado, assegurando o recebimento de certa taxa de juros durante os próximos anos. Se a inflação disparar nesse período, mesmo a pessoa tendo uma remuneração fixa positiva, a cada ano ela verá diminuir seu poder aquisitivo, pois os preços dos bens estarão subindo em velocidade maior que seu capital. Essa situação é de fazer Joãozinho chorar aos berros, pois seria abrir mão de 25 pirulitos hoje, para conseguir comprar menos que isso no futuro.
Como conclusão, gostaria de deixar o recado de que cada vez mais está se tornando importante compreender variáveis como taxa de juros e inflação. Projeções de longo prazo, principalmente aquelas realizadas por instituições que comercializam produtos de previdência privada, devem ser cada vez mais cautelosas. O cenário não é de desespero, principalmente para quem sabe jogar o jogo. Portanto, seja um desses e informe-se!
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.