Consumidor: como não ser enganado apenas com truques numéricos
Compreender matemática financeira de forma a fazer bons negócios (seja vendendo ou comprando produtos), significa saber trabalhar com números que nem sempre são de conhecimento dos consumidores. Para ajudar nessa tarefa, no presente artigo iremos focar em uma operação de financiamento. Para tal, as principais variáveis de interesse são:
1) Valor das parcelas
2) Taxa de juros
3) Prazo de pagamento
4) Preço à vista
Em geral, o consumidor não compreende como se dão as interações entre tais variáveis, olhando apenas o valor das parcelas. Sabendo disso, aqueles que oferecem financiamentos fazem de tudo para seduzir seus clientes, “brincando” com as variáveis, de forma a concretizar a venda com boas margens de lucro.
A seguir, apresento como exemplo as condições para a compra de um notebook.
De: R$2.299,00
Por: R$1.799,00 (à vista, com desconto de 5%)
Ou parcelado no Cartão de Crédito:
6 x de R$299,83 (sem juros)
ou
24 x de R$100,00 (com juros de 2,45% ao mês)
Vamos analisar tais informações e como elas são intencionalmente manipuladas para fisgar seus clientes.
De início, coloca-se um preço muito acima do verdadeiro (R$2.299,00), buscando convencer que o preço atual já está com desconto. A ideia é seduzir o cliente, fazendo-o ter uma impressão de que o produto está uma pechincha. Talvez, tal notebook nunca tenha sido vendido a esse preço antes, mas a tática funciona.
Em seguida, tem-se o parcelamento do cartão de crédito. Aí encontramos uma das maiores “lorotas” que o comércio pratica: o famoso SEM JUROS. Ao dividir o suposto preço à vista de R$1.799,00 por 6, encontramos exatamente o valor da parcela de R$299,83. Isso nos dá a falsa impressão que não existem juros embutidos.
Porém, responda-me à seguinte questão: qual é o preço à vista?
Obviamente não são os R$1.799,00. Na opção de pagamento à vista o valor a ser desembolsado será de R$1.709,05, em que já estão contabilizados os 5% de desconto.
Portanto, a condição CORRETA, para esse caso, é de pagamento em 6 vezes de R$299,83, de um produto que poderia ser comprado à vista por R$1.709,05, o que implica em uma taxa de juros de 1,49% ao mês.
Note que é bem mais eficaz para o vendedor colocar DESCONTO À VISTA e depois PARCELAMENTO SEM JUROS, do que simplesmente colocar um preço à vista mais baixo e dizer que há juros embutidos. Sacanagem? Talvez. Todavia, matematicamente são apenas são maneiras distintas de ver a mesma coisa. O interessante, nesses casos é que o consumidor saiba identificar quando isso ocorre.
Por fim, há a possibilidade de parcelar o valor em 24 vezes. Como esse prazo é mais longo, fica difícil fazer alguma manobra para disfarçar a presença de juros. Assim, mais uma vez, utilizando-se erroneamente do preço de R$1,799,00, a artimanha é colocar em letras miúdas o valor da taxa de juros, que neste caso é de 2,45% ao mês (olho atento, consumidor!).
Todavia, pelas mesmas justificativas anteriormente expostas, esse cálculo é enganoso. O comprador deveria utilizar o verdadeiro preço à vista (já com o desconto de 5%), que o deixaria ciente que está pagando uma taxa de 2,92% ao mês sobre a compra. Mas sabemos que o consumidor escolhe a compra em 24 vezes, e pouco está olhando a taxa de juros. Apenas o valor das parcelas…
CONCLUSÃO
Percebam que a loja vendedora do notebook tem opções para todos os gostos.
– Para quem compra à vista, ganha desconto e se sente bem;
– Para quem compra parcelado em poucas vezes, sai feliz da vida por pensar não ter pago juros;
– E para quem apenas decide pelo critério “parcela que cabe no bolso”, existe a opção de 24 parcelas.
As armadilhas estão aí e somente Educação Financeira pode dar um jeito nisso.
Fique de olho, pois é preciso saber JOGAR O JOGO.
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Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.