Nós, especialistas em finanças pessoais, bradamos em alto e bom som que Educação Financeira é a chave para solucionar todos os males que envolvem dinheiro. Todavia, o que se verifica, na prática, é que existe uma considerável distância entre ter consciência sobre a importância da matéria e uma real mudança de comportamento, por parte dos indivíduos, em geral.
Muitas podem ser as explicações para tal constatação. Na maioria das vezes, são citadas razões inerentes aos indivíduos: falta de disciplina, baixa escolaridade, baixo nível de renda etc. Porém, neste artigo, gostaria de chamar a atenção para uma forte barreira à aceitação do estudo sobre finanças pessoais, que não está atrelada diretamente às características individuais: a crescente complexidade do sistema financeiro.
No Brasil, com a estabilização econômica verificada pós Plano Real, surgiram diversas oportunidades de negócios no mercado financeiro, que resultaram em maior facilidade de acesso aos mais variados produtos: financiamentos de longo prazo, empréstimos descontados em folha, aplicações em derivativos e fundos imobiliários, são exemplos de serviços oferecidos pelas instituições financeiras, que vêm se popularizando a cada dia.
Considerando-se os já “bem educados financeiramente”, toda essa ampliação das opções parece salutar. Todavia, para a maior parte da população, o aumento na complexidade de um sistema com características peculiares, faz diminuir o apetite por Educação Financeira (quando o desejado deveria ser exatamente o contrário).
Um exemplo claro e muito próximo das pessoas é a previdência privada. Entre no site de qualquer grande banco e veja a quantidade de planos disponíveis ao público. A quantidade de informações é tamanha que “embaralha” a cabeça de qualquer um. Como os produtos são específicos e com características únicas, é difícil encontrar um auxílio que não seja do próprio gerente do banco (que não é o mais recomendado).
Mas esse não é o principal entrave dos planos de previdência (existem muitos outros). Por exemplo, é preciso escolher hoje, qual será o melhor regime de tributação, para o seu caso específico, quando chegar a hora de receber os benefícios. Esse horizonte de tempo corresponde a períodos de 20, 30 ou 40 ANOS. Tal escolha mostra-se como um exercício de futurologia, que deve intrigar até mesmo o mais renomado especialista em finanças pessoais ou astrólogo. Não podemos esquecer que também é preciso compreender as simulações, as opções de renda vitalícia ou determinada, comparar as taxas oferecidas pelas diferentes instituições, e por aí vai. No final das contas, ou a pessoa desiste ou acaba aderindo ao plano que o gerente recomendar, sem quaisquer ressalvas ou contestações.
Importante ressaltar que não pretendo cair na armadilha de justificar o ERRO de não se educar financeiramente, devido ao fato da complexidade do tema. O intuito desse artigo é apenas considerar um fator importante a ser considerado, quando a pergunta é: por que as pessoas relutam em estudar finanças?
Cabe a nós, que escrevemos sobre finanças pessoais, buscar superar esses entraves, oferecendo informações que à primeira vista são complexas, de maneira simples e direta. Talvez, isso facilite que muitas pessoas transponham a barreira que lhes impedem de educar-se financeiramente (excesso de informações) e, a partir daí, possam colher os frutos do conhecimento adquirido, através de uma mudança de comportamento no mundo real.