Dentre os conselhos oferecidos por especialistas em finanças pessoais, um bastante comum é o de tomar cuidado com os pequenos gastos. Segundo tal ideia, se colocarmos na ponta do lápis todos os pequenos valores despendidos no dia a dia, isso pode representar um montante considerável ao longo do tempo.
Os cálculos realizados são da seguinte natureza: se todos os dias, ao sair do trabalho, Maria compra um doce e um refrigerante no valor de R$5,00, ao considerar os dias úteis trabalhados, esse gasto irá superar facilmente os mil reais. Se também considerarmos que esse dinheiro poderia ser aplicado, rendendo juros, a perda seria ainda maior.
Pois bem, o raciocínio é bastante lógico, financeiramente falando, mas para muitos é difícil de ser aplicado na prática.
As pessoas têm uma vida corrida, e se sentem no direito de se presentear com um refrigerante e um docinho ao final do expediente. Isso lhes faz bem. Portanto, não vejo nenhum absurdo quando alguém despreza essa possível economia, pois as decisões humanas não devem ser, necessariamente, apenas técnicas.
Há um grau de subjetividade nas escolhas que deve ser respeitado.
Indo mais além, não acredito em uma Educação Financeira que forneça receitas prontas de como se comportar. Algo como: faça isso, não faça aquilo. Na verdade, penso que Educação Financeira significa o desenvolvimento de um autoconhecimento e de questões ligadas a finanças, que permitirão tomar as melhores decisões para cada caso.
Voltando ao exemplo, não se trata se deve ou não economizar o dinheiro do refrigerante e do doce. Mas que a decisão de comprar ou não seja consciente. Que seja verdadeiramente uma ESCOLHA.
EXEMPLO: ALMOÇO FORA DE CASA
A grande dúvida do nosso personagem é: almoçar na empresa e economizar dinheiro, ou fazer a refeição em um restaurante onde a comida é bem melhor?
A primeira opção significa a tal economia de pequenos valores por dia, sendo a segunda uma melhora na qualidade da alimentação diária, que José tanto aprecia.
Na prática, podemos falar que é possível desdobrar essas duas possibilidades básicas em alternativas intermediárias, como por exemplo, almoçar três dias da semana na empresa, e os outros dois dias no restaurante. Quem sabe até pensar na possibilidade de levar uma marmita de casa, economizando dinheiro, aumentando a qualidade da comida, com a consequência de ter mais trabalho na preparação.
Agora vamos pensar em algumas variáveis que podem afetar a decisão de José:
– qual é seu grau de insatisfação com a comida da empresa?
– em média, qual seria a diferença de gasto mensal entre almoçar no restaurante ou na empresa? Quanto maior a diferença, maiores serão as perdas financeiras.
– quanto esse gasto representa no valor total do salário recebido por José? Quanto menor esse percentual, mais a opção de almoçar fora se torna interessante.
– almoçar fora significa ainda ir de carro, gastar gasolina e pagar estacionamento?
– existe mais de uma opção de restaurantes, com preços e qualidades diferentes, que aumentarão as possibilidades de escolha?
– irá apenas almoçar ou também terá gastos com suco ou refrigerante?
Pois bem, não estou querendo esgotar tal análise, mas demonstrar como podemos modelar o problema para, logo após, tomar a decisão que melhor se encaixa ao nosso perfil. Decidindo, assim, se vale a pena economizar os pequenos gastos diários, em cada caso. Pode parecer algo um pouco complexo, mas como já disse anteriormente, permite uma total liberdade de escolha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gastar ou não gastar deve ser uma decisão consciente, baseada em critérios objetivos e subjetivos. Eu, por exemplo, tenho um automóvel. Ao decidir por adquirir esse bem, que gera gastos enormes durante o ano, estou abrindo mão de aumentar a quantidade de dinheiro que terei no futuro. Porém, ter o carro foi uma ESCOLHA CONSCIENTE minha, em que assumi pagar o preço dessas despesas em troca de um conforto na questão de ir e vir.
Veja que posto dessa forma, se você faz a análise e mesmo assim decide sempre pelo consumo, estará conscientemente abrindo mão de seu futuro financeiro para curtir o presente. Depois não adianta reclamar!
Por fim, vou dar uma sugestão que poderá lhe ajudar nessas decisões. Faça seu orçamento doméstico, anotando suas receitas e despesas. Projete quanto de dinheiro precisa para sobreviver, no próximo mês, com os itens básicos. Quando receber o dinheiro de seu trabalho, invista uma parte com o objetivo de conquista futuras, separe o que irá gastar com o que é básico, e o que sobrar ficará para as decisões de pequenos gastos.
No caso de José, imagine que possui um salário líquido de R$2.000,00. Ao receber o dinheiro, ele guarda R$300,00 em uma aplicação em renda fixa. Sabe também que os gastos básicos – alimentação da casa, roupas, luz, água, energia elétrica etc – representem R$1.400,00, em média. Portanto, sobrarão R$300,00 para gastos “supérfluos”. Com base nesse valor e em outras possibilidades, ficará mais fácil decidir entre almoçar na empresa ou restaurante, pois precisará se virar com o orçamento que possui.
É isso aí, boa sorte em suas finanças e vida pessoal!