Será que Educação Financeira para Ensino Fundamental e Médio, realmente funciona?
Será que crianças e adolescentes se interessam por esse assunto, dentro do ambiente escolar?
Para ajudar nessas reflexões, irei contar, nesse texto, minha experiência como docente de uma disciplina denominada: Educação Financeira e Valores.
A história teve seu início no final do ano de 2019
Um dos colégios privados mais conceituados da região onde resido estava em busca de um profissional para assumir o ensino de Educação Financeira e Valores, desde o 6º ano do ensino fundamental, até a 2ª série do ensino médio – cabe ressaltar que tal disciplina é obrigatória na grade curricular de todos os alunos, fazendo parte do que denominaram “disciplinas diversificadas”.
De início, essa ideia trouxe-me alguns receios.
Isso porque, apesar de trabalhar com finanças pessoais e investimentos há anos, meu público sempre foi adulto.
Desde que iniciei como professor e palestrante, lidei com universitários e colaboradores de empresas – a média de idade acima de 25 anos também era percebida entre meus leitores do blog e alunos de cursos online.
Nesse contexto, a pergunta que me intrigava era: como lidar com crianças em sala de aula (principalmente as de 11 e 12 anos)? Será que daria conta de ensinar Educação Financeira e Valores para esse novo público?
Porém, ao sentir-me amparado pela estrutura do colégio e ávido por novos desafios, aceitei a proposta que me fizeram e dei início à montagem de toda uma grade curricular.
O desafio era não só adequar os conteúdos às diferentes faixas etárias, mas também ouvir (e muito) os outros professores, mais experientes que eu, sobre as melhores formas de transmitir os conceitos que havia decidido trabalhar, para crianças e pré-adolescentes.
INÍCIO DOS TRABALHOS
Começando as aulas (ainda presenciais), no ano de 2020, propus um desafio a todas as classes, do fundamental ao médio.
A ideia foi trabalhar com eles o conceito de RIQUEZA, colocando em pauta não apenas as finanças, mas discutindo profundamente os valores, palavra essa trazida no próprio nome da disciplina.
E o trabalho de semanas, com debates entre alunos, discussão com toda a sala, utilização de vídeos, pedindo que eles entrevistassem adultos da própria família sobre o conceito debatido, culminaram com um concurso, elegendo a melhor frase de cada sala. Veja apenas duas delas, a seguir.
“Ser rico é ter saúde, felicidade, uma família e estar bem financeiramente, porque ser rico não se trata só de dinheiro, mas também significa tratar o outro como igual” (6º ano do ensino Fundamental)
“Ser uma pessoa rica é ser alguém que, em meio a uma sociedade superficial e individualista, consegue ter empatia e, a partir desse princípio, consegue levar, aos outros, felicidade – mostrando que a riqueza está nas pequenas coisas que a vida nos oferece”. (2ª série do ensino médio)
Profundo, não é mesmo?
E o que acho mais interessante, em tudo isso, é a possibilidade do diálogo que tal disciplina faz com outras do mesmo ano/série.
Por exemplo, já trabalhamos a elaboração de um orçamento utilizando frações e como calcular o lucro de uma empresa usando de porcentagem (tópicos esses que os alunos estavam aprendendo em matemática, no momento em que trouxemos o tema para discussão).
O trabalho de pesquisar sobre grandes personagens retratados nas cédulas de dinheiro (Princesa Isabel, Tiradentes, Getúlio Vargas, Santos Dumont, Rui Barbosa, Oswaldo Cruz etc) ajudou tanto na compreensão de que já houve diversas moedas no Brasil, como também no conhecimento de personagens marcantes de nossa história.
Mais um exemplo foi a parceria com as professoras de redação, trabalhando um texto argumentativo sobre a decisão (fictícia) da construção ou não de um hotel, em uma área de mata atlântica. Foram oferecidos textos de apoio com opiniões a favor da construção do hotel, como forma de melhorar a economia local, mas também o ponto de vista de preservação do patrimônio natural. Os resultados foram deliciosos de se ler!
Nesse exato momento em que escrevo o texto, estamos preparando um projeto sobre CONSUMO CONSCIENTE, focando na questão da compostagem. Vamos construir uma composteira, estando envolidos diversos professores como Ciências, Matemática, Português e, logicamente, Educação Financeira (turmas do 7o ANO).
Veja foto da composteira que construí em minha própria casa.
E o resultado de todo esse trabalho?
A felicidade estampada no rosto dos alunos quando começam a compreender o que eles chamam de “mundo dos adultos”.
Já ouvi muitos relatos de adolescentes dizendo de suas conversas inéditas com os pais sobre finanças, sendo que uma aluna, certa vez, confessou-me estar feliz com as aulas pois “agora ela foi inserida em diversas conversas que antes era deixada de lado”.
Portanto, se você me fizer a pergunta inicial desse texto, se Educação Financeira funciona para ensino médio e fundamental, minha resposta é um sonoro SIM – desde que condições mínimas de trabalho sejam oferecidas, o que infelizmente estamos longe de alcançar na maioria das escolas do país.
É isso aí. Boa sorte em sua vida e finanças pessoais!