A argumentação do presente artigo é a de que muitos de nossos comportamentos em relação ao dinheiro estão relacionados à maturidade física, emocional e intelectual de cada indivíduo. Num primeiro estágio, desde que nascemos até algum ponto da puberdade/juventude, somos essencialmente dependentes dos mais experientes, de seus ensinamentos, carinhos e condições financeiras.
Concentrando tal abordagem apenas na dimensão do dinheiro, nessa fase, as principais questões financeiras relacionadas a um indivíduo (dependente) baseiam-se no você: o que você me dará de presente neste Natal? Você poderia me dar X reais para comprar um doce? Ou seja, é preciso do outro para se conseguir o que deseja. Essa etapa é o início de nossa construção psicológica relativa às finanças e os exemplos encontrados dentro de casa são fundamentais nesse ínterim.
O segundo estágio da maturidade pauta-se na independência. O jovem, ao tomar ciência dos desafios que a vida lhe impõe, busca desgarrar-se dos laços familiares e adquirir uma identidade própria. Nesse caso, o paradigma sai do você e centra-se no eu. Eis que surge o senso de responsabilidade e situações como: eu irei comprar isso, de alguma maneira eu preciso conquistar aquilo, e assim por diante. O objetivo torna-se conseguir tudo o que se almeja mediante o próprio esforço e trabalho. É a tal busca pela “liberdade”.
Por fim, o último estágio da maturidade é a interdependência, em que agora o indivíduo altera sua visão de mundo do eu para o nós. É um estágio que só pode ser alcançado por quem já atingiu sua independência em certo momento da vida, iniciando uma trajetória de cooperação e enxergando, no outro, uma complementariedade essencial para a felicidade almejada. Nesse momento a relação entre finanças pessoais e ambiente familiar completa seu ciclo.
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Tal modelo de evolução em relação à maturidade me parece bastante lógico e aceitável. Todavia, ao observar o mundo em que vivemos, acredito que muitos dos problemas familiares surjam da falta de maturidade daqueles que comandam as finanças pessoais da casa. E isso ocorre devido ao excessivo valor que nossa sociedade dá à questão da independência. Não é incomum encontrar pessoas focadas, exclusivamente, na realização pessoal e conquista de objetivos próprios. Todavia, essa visão focada no eu não é suficiente para o bom andamento do ambiente familiar.
Para que o dinheiro traga benefícios duradouros à família é preciso que haja uma comunhão de objetivos, significando a necessidade de pensamentos como: o que nós faremos nessas férias? Será que tal investimento é compatível como nossos objetivos? Um(a) chefe de família que atinja a maturidade interdependente pensa não só no próprio sucesso, mas, principalmente, nas externalidades positivas geradas por suas decisões financeiras em relação à sua família, e, por que não, para a sociedade em geral.
O foco único na independência, no longo prazo se mostrará um erro, pois a vida é, em sua essência, interdependente: mesmo tendo consciência de nossa capacidade individual, tornamo-nos mais eficazes (felizes!!!) fazendo coisas juntos do que isoladamente. É importante salientar que ser interdependente não significa abdicar do reconhecimento do próprio valor, mas ir além: transcender. É compreender a necessidade de dar amor e também recebê-lo do próximo. Dessa forma, não chegar ao último estágio da maturidade significa que a boa convivência familiar estará fadada ao fracasso.
Como conclusão, argumento que o sucesso financeiro de uma família não significa, necessariamente, a felicidade de seus componentes. Isso porque, para aproveitar efetivamente a essência da vida, é preciso que os responsáveis pela administração do orçamento familiar estejam maduros a ponto de reconhecerem-se enquanto seres repletos de potencialidades, mas, principalmente, capazes de aceitar (e viabilizar) a convivência harmoniosa e mutualista com as pessoas à sua volta.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoa!
OBS: a classificação de maturidade utilizada neste texto foi extraída do livro Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, do autor Stephen R. Covey.