O termo finanças pessoais vem, a cada dia, ganhando mais espaço na vida dos brasileiros. Na mídia televisiva, muitos canais já possuem especialistas para esclarecer dúvidas dos telespectadores, além de exibirem reportagens e dedicarem programas inteiros ao assunto.
Nos jornais e revistas impressos, existem diversos espaços dedicados às finanças pessoais e, na internet, “pipocam” sites e blogs que visam ensinar educação financeira a seu público.
Tamanho interesse tem sua explicação não só na relevância do tema, mas também devido à magnitude de seu público-alvo potencial.
Todas as pessoas, de qualquer idade ou classe social, possuem uma íntima relação com dinheiro, pois consomem bens e serviços.
Mesmo com essa atenção recente dirigida às finanças pessoais, para o grande público ainda não há a devida compreensão sobre abrangência de tal área de estudo.
Essa falta de clareza prejudica a disseminação do tema, fazendo com que muitos se tornem relutantes em incorporar conceitos financeiros importantes em sua vida.
O fato é que de um lado, têm-se os especialistas jorrando carradas de informação sobre os mais diversos temas. De outro, o público-alvo buscando filtrar o que lhe é interessante, porém muitas vezes se frustrando dada a impossibilidade de absorver todo conteúdo disponível, que também lhe parece ser desconexo.
Acredito ser esse um dos grandes entraves para uma maior popularização das finanças pessoais no Brasil.
Nesse contexto, surge também a necessidade de uma maior clareza sobre o papel dos educadores financeiros, pois são peça fundamental para que o assunto seja difundido e apresentado de maneira mais acessível. No decorrer deste texto, será feita uma reflexão mais especifica sobre isso.
Com base em tal argumentação, o presente artigo tem o intuito de auxiliar o grande público na compreensão da finalidade e abrangência de estudo das finanças pessoais, além de refletir sobre o papel dos educadores financeiros e sua importância dentro da sociedade.
Finanças Pessoais
Segundo Garman & Forgue (2010)[1], finanças pessoais é o estudo dos recursos pessoais e familiares considerados importantes para atingir sucesso financeiro. Tal estudo significa analisar como as pessoas gastam, economizam, protegem e investem seus recursos financeiros.
Veja abaixo, alguns tópicos passíveis de serem abordados dentro das finanças pessoais, segundo os mesmos autores:
– planejamento financeiro e de carreira
– orçamento doméstico
– administração tributária (impostos e taxas)
– administração do dinheiro disponível em conta corrente
– cartões de crédito
– empréstimos/financiamentos
– análise das despesas
– administração de risco
– investimentos (mercado financeiro, imóveis e negócio próprio)
– plano de aposentadoria
– planejamento sucessório (herança)
Ainda segundo Garman & Forgue (2010), um sólido entendimento sobre os tópicos citados acima oferece maior chance de sucesso no enfrentamento de desafios financeiros.
A seguir alguns exemplos do que os autores denominam sucesso:
a) conseguir um baixo custo do crédito;
b) minimizar o pagamento de tributos;
c) adquirir bens e serviços por preços baixos;
d) conseguir financiamentos com excelentes condições;
e) comprar bons seguros;
f) selecionar investimentos que casem adequadamente com suas necessidades;
g) planejar uma aposentadoria confortável;
h) deixar herança com o mínimo de custo de transferência.
É possível perceber, portanto, que é vasta a possibilidade de assuntos a serem tratados pelas pessoas que estudam finanças pessoais.
Tal abrangência é uma via de mão dupla, pois:
1) permite a quem estuda o prazer de trilhar por diversas áreas do conhecimento (economia, administração, marketing, direito, psicologia etc); porém
2) pode causar problemas na assimilação de tal conteúdo por parte do grande público.
É preciso que os educadores financeiros tenham o cuidado de sempre contextualizar seu assunto, de forma que o consumidor final da informação tenha clareza sobre o conteúdo que está absorvendo.
O papel do educador financeiro
Para comprovar a vastidão de assuntos relacionados às finanças pessoais, com uma rápida pesquisa na internet, é possível encontrar especialistas ensinando sobre: como investir em ações, como elaborar um orçamento, como planejar a aposentadoria, como sair do vermelho e por aí vai.
Importante deixar claro que ao escrever ESPECIALISTAS, refiro-me a pessoas com um mínimo de formação e experiência no assunto. Existe muita coisa ruim (como em qualquer outro ramo de conhecimento) e é preciso selecionar.
Mas será que nós (aí me incluo), educadores financeiros, estamos cumprindo de forma adequada nosso papel dentro da sociedade? Quais nossos principais desafios? Esta é a reflexão que gostaria de iniciar com este artigo.
É quase que consenso, e diversos estudos mostram isso, que uma população bem educada financeiramente, traz ganhos econômicos e sociais relevantes. E os educadores financeiros, além de governo e iniciativa privada, têm papel fundamental nessa engrenagem.
É preciso que esses especialistas suem a camisa, de forma a transformar um assunto vasto e árido, em algo acessível ao grande público. Creio ser esse o primeiro grande nó a ser desatado.
Além de publicar artigos e dar entrevistas, creio que arregaçar as mangas e chegar mais próximo da população deva ser também uma meta. Abaixo, listo alguns itens do que considero outros desafios importantes:
– ajudar de forma efetiva o trabalhador de média/baixa renda que trabalha nas empresas, afogado em créditos consignados, que percebe uma diminuição em sua produtividade devido a problemas financeiros;
– elaborar formas mais criativas e eficazes de ensinar crianças e jovens sobre finanças pessoais, sem que o assunto lhes pareça “coisa de gente grande”;
– criar mais espaços para debates, em que a população também possa expor seus pontos de vista e anseios, e não apenas portar-se de maneira passiva. Ouvir os reais problemas e opiniões das pessoas deveria ser a matéria-prima utilizada no trabalho do educador financeiro.
Existem muitos outros desafios. O presente texto abre uma possibilidade de debate. É preciso não só que as pessoas compreendam a importância das finanças pessoais, mas também que os educadores financeiros tenham consciência de seu papel dentro desse contexto.