Ao pensar em investimentos, logo vem à nossa mente a noção de retorno financeiro. Por exemplo: colocarei meu dinheiro em ações da Vale do Rio Doce pensando em auferir ganhos de capital; comprarei um terreno buscando lucrar com sua valorização; irei investir em um negócio próprio almejando uma taxa interna de retorno interessante.
Todavia, de maneira mais ampla, é possível considerar a relação investimento/retorno além do aspecto financeiro. Acredito não ser um disparate considerar exercícios físicos e alimentação saudável como um investimento em saúde, sendo o retorno esperado uma vida mais longa e com maior qualidade. Vejo da mesma forma o ato de rezar todos os dias e ir à missa regularmente: seria um investimento em que se almeja como retorno alguma graça divina em vida, ou até mesmo a salvação após a morte.
Há também casos em que os retornos podem ser, ao mesmo tempo, financeiros e não financeiros, complicando um pouco a análise. Consideremos a decisão entre fazer ou não uma faculdade. Existem, no mínimo, dois aspectos a serem levados em consideração.
O primeiro que irei citar é o econômico/financeiro, estando baseado na seguinte questão: será que o dinheiro a ser destinado para o pagamento da mensalidade irá ser compensado com um aumento da renda no futuro?
Em outras palavras, será que o investimento apresentará retorno positivo?
Ao considerar um curso que possua uma mensalidade de R$600,00 por mês e quatro anos de duração, se o aluno investisse esse dinheiro a uma taxa de 0,6% ao mês, no mercado financeiro ao invés da faculdade, acumularia cerca de R$33.460,00.
Com esse valor em mãos, torna-se interessante saber quanto a renda mensal precisará subir depois de formado, para que a situação em que se escolhe fazer a faculdade seja mais interessante?
Suponhamos os seguintes cenários:
1) na situação em que não se faz a faculdade, a pessoa continuará poupando R$600,00 por mês (durante os quatro anos em que não está cursando a faculdade e nos próximos);
2) no caso de se decidir fazer o curso superior, não se pouparia dinheiro algum nos quatro primeiros anos, mas ao se formar, com um aumento de seu rendimento mensal, conseguiria poupar mais que R$600,00 por mês.
Considerando que, após o término da faculdade, a pessoa consiga um aumento de seus rendimentos igual a R$400,00 por mês (ou seja, conseguiria poupar R$1.000,00 ao invés de R$600,00), demoraria 9,25 anos para que se recuperasse o investimento.
Todavia, se a capacidade de poupança dobrasse, ou seja, se a pessoa conseguisse investir R$1.200,00 por mês, conseguiria recuperar o capital em apenas 5,4 anos.
NOTA: provavelmente o aumento de rendimento não se dará no ato do recebimento do diploma, fazendo com que o tempo de recuperação do capital seja maior. Todavia, acredito que a simulação apresenta uma boa estimativa para o caso.
Como argumentado no início desse exemplo, talvez o aspecto econômico/financeiro não deva ser o único a ser considerado. Para muitas pessoas, conseguir o diploma universitário poderá representar um retorno complicado de mensurar: a satisfação pessoal. A incorporação dessa variável no modelo dificulta a tomada de decisão: quantos reais por mês equivaleria ter um diploma, em termos de satisfação pessoal?
Portanto, existem escolhas em nossa vida que são mais amplas que apenas o aspecto financeiro, e devem ser consideradas da maneira mais racional possível. O trade off entre dinheiro e satisfação pessoal é um dilema difícil de ser equacionado, mas é um exercício de reflexão fundamental para a manutenção do bem estar futuro.
É isso aí pessoal. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!