Dia 27/11/2014 a presidente Dilma anunciou o nome de seu novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. E a pergunta que meus leitores vêm me fazendo é: quais as implicações desse fato para o futuro econômico do país e minhas finanças pessoais?
Como as ciências econômicas, na maioria das vezes, apresenta conceitos que não são facilmente digeridos pelo público em geral, criei uma historinha que buscará esclarecer de onde viemos, onde estamos e para onde vamos, de maneira que facilite compreensão dos leitores. Para tal, minha ideia foi realizar uma analogia entre finanças familiar e o Brasil.
Estou ciente que, toda vez que se busca simplificar algo complexo, corre-se o risco de assumir uma visão simplista da questão. Mas esse é um risco bem calculado que me disponho a enfrentar, pois o assunto é deveras importante e vale a pena a tentativa. Deixe seu comentário ao final do artigo.
IMPORTANTE: ao final da história existe um glossário que identifica cada um dos personagens citados, com a vida real.
A HISTÓRIA DE MARIA E SEUS FILHOS
Há alguns anos atrás Maria vivia com João. Apesar do temperamento forte de sua companheira, que se denominava “chefe da casa”, João era quem dava a palavra final. E nesse tempo, os filhos viveram seus melhores dias. A renda da família crescia e, como pagavam suas contas em dia, o mercado, no qual faziam a maioria de suas compras, tinha cada vez mais confiança em vender a prazo para eles.
Oito anos se passaram até que, certo dia, Maria assumiu total controle da casa. Mandou João passear e amigou-se com Pedro. E a escolha específica por esse novo companheiro se deu porque ele era fiel às suas vontades. Ela mandava e ele obedecia.
Mas essa transição não foi nada fácil. Os filhos sentiam saudade de João. Foi então que Maria tomou a seguinte decisão. Colocou de forma oficial seu companheiro Pedro no comando das finanças e disse: dê tudo o que meus filhos quiserem, não importando o quanto custe, pois precisamos conquistar seu amor de qualquer maneira.
E assim foi feito. Sem se preocupar com um controle do orçamento doméstico sustentável, Pedro iniciou a gastança. O pessoal do mercado alertava-o para ser mais comedido, que um dia ele iria perder a confiança e o crédito na praça começaria a minguar. Mas, cumprindo as ordens de Maria, o gerente da casa seguiu em frente, sempre com argumentos baseados na seguinte linha de raciocínio: “devo sempre fazer tudo o que posso pelos filhos”.
Depois de outros oito anos de convivência, num descontrole financeiro visível, alguns dos filhos, agora mais maduros, começaram a se preocupar. Estava claro que os pais estavam gastando muito e mal. Protegia uns e dava as costas para outros. Pouco incentivavam a educação dos filhos, não criavam oportunidades, além de usar boa parte do orçamento com medidas que agradassem apenas momentaneamente, sem oferecer perspectivas de futuro interessantes.
E no mercado? Ah, os donos da mercearia, quitanda e demais estabelecimentos estavam diminuindo o crédito oferecido à Maria e Pedro, com medo que algum dia dessem um senhor calote. Havia boatos que o casal, em alguns lugares, já não conseguia pagar o total das parcelas da dívida. A coisa começou a ficar realmente complicada…
Todos esses fatores causaram um imenso mal estar entre os filhos. Os mais protegidos queriam a continuidade da mamata, enquanto os esquecidos queriam mudança. Democraticamente (mas num processo bem desgastante) fizeram uma votação e, por margem apertada, Maria permaneceu no controle.
Entretanto, ao ver que sua tática de agradar aos filhos gastando mais do que o recomendado não havia dado certo, pediu carinhosamente para Pedro tomar o caminho da roça e convidou Joca para resolver os problemas da casa. Assim o fez porque Joca tinha uma boa reputação na praça. Tanto que após o anúncio, o pessoal do mercado entrou em euforia, dizendo que provavelmente a família poderia abrir crédito novamente, desde que Joca tivesse autonomia em relação às finanças da casa.
Mas agora, o que esperar em relação ao futuro dos filhos?
Se Maria deixar, é bem provável que Joca acabe com a mamata de boa parte dos rebentos. Isso porque, conhecendo economia, ele sabe que precisa cortar despesas para conseguir resgatar a credibilidade da família frente ao mercado. E a premissa é que será preciso passar por uma fase de ajustes severos, de forma a readequar as contas para, só em seguida, voltar a crescer.
Alguns filhos não gostaram da indicação de Joca. Na verdade, nem Maria o aprecia muito. Só que o desespero lhe bateu à porta e ela teve que ceder – não se sabe até que ponto, pois você sabe como é coração de mãe, né?
Dessa forma, para saber se ela deixará Joca em paz para fazer o que precisa ser feito, apenas o tempo dirá.
Quanto aos filhos? Após a bonança, terão que se acostumar com um pouco de tempestade, nos próximos anos ou meses. Provavelmente, vem aperto por aí…
GLOSSÁRIO
– Maria = Presidente Dilma
– João = Ex-presidente Lula
– Pedro = Ministro Guido Mantega
– Joca = Joaquim Levy (futuro Ministro da Fazenda)
– Filhos = nós, o povo brasileiro