Introdução
A taxa de juros básica da economia, a SELIC, têm aumentado nos últimos meses e parece que esse ciclo de alta vai permanecer por mais algum tempo. A consequência é que outras taxas da economia, relacionadas a investimentos e empréstimos/financiamentos também acabam sendo afetadas.
Nesse contexto, o presente artigo buscará demonstrar quais os reflexos de tal cenário, para o seu bolso, e dar algumas dicas sobre o que fazer – e o que não fazer – para que suas finanças sejam bem administradas.
Tombini e a ata do Copom
Basicamente, quem decide se a meta da taxa SELIC irá aumentar ou diminuir é o Comitê de Política Monetária, o COPOM. Esse Comitê é capitaneado pelo presidente do Banco Central Alexandre Tombini, que fez um discurso, em evento realizado dia 01/07/2015, dando um tom de que as elevações da SELIC ainda devem continuar (ver íntegra do discurso aqui).
Na verdade, desde a ata da última reunião do COPOM, divulgada dia 03/06/2015, o mercado já vem considerando a hipótese de que a taxa continuará subindo (confira reportagem). Isso pode se dar já nessa próxima reunião, dia 28/07/2015, e a tendência é que os juros altos permaneçam também em 2016 (fonte).
O principal motivo dessa política monetária contracionista é o temor de que venhamos a perder o controle da inflação. E esse medo não é em vão. A meta inflacionária para 2015, estipulada em 4,5%, está com estimativas de que seja próxima de 9% este ano (IPCA).
Como a inflação é uma péssima aliada da economia, saiba as razões nesse artigo que escrevi sobre o assunto, você verá seguidos aumentos e/ou manutenção de uma alta taxa SELIC no futuro, até que se consiga frear a subida dos preços na economia.
Resumindo, nesse artigo não estou especulando ou fazendo grandes exercícios de futurologia quanto ao que vai acontecer com a taxa SELIC. Muito pelo contrário. Quando digo que altas taxas de juros permanecerão num período de tempo considerável, estou simplesmente amparando-me em declarações do próprio presidente do Banco Central e nas expectativas do mercado.
Aí uma pergunta surge: por que é preciso dar atenção à trajetória da taxa de juros no futuro, quando falamos de finanças pessoais?
É o que veremos nas próximas linhas.
Por que ficar de olho na SELIC?
A meta estipulada para a taxa SELIC influencia todo o andamento da economia.
Veja alguns exemplos:
– com a expectativa de aumento da taxa SELIC no futuro, algumas modalidades de títulos do governo, aqueles mesmos negociados via Tesouro Direto, acabam tendo sua remuneração afetada positivamente, ficando mais atrativas para o investidor;
– as empresas, ao tomar decisões entre investir no próprio negócio ou aplicar seu dinheiro no mercado financeiro, prefere este último quando as taxas de juros estão altas. Logo, com menos investimentos, o país para de crescer, tende a aumentar o desemprego, e esse cenário de diminuição da riqueza segura de certa forma a inflação – que é o objetivo final de tal política monetária;
– com o país crescendo menos, muitas empresas acabam sendo negativamente afetadas, fazendo com que o mercado de ações também se torne uma alternativa cada vez mais arriscada. Mas há quem diga ser essa a melhor hora de entrar comprando ações até que as coisas melhorem e se consiga ganhar um bom dinheiro tendo comprado na baixa;
– uma elevação na SELIC aumenta tanto a remuneração de outras renda fixas, como as atreladas ao CDI, como também os juros cobrados em empréstimos e financiamentos. Veja o efeito “perverso”: a elevação dos juros prejudica muito aqueles que compram apenas parcelado e beneficia os poupadores;
– quanto mais alta a SELIC, menos atrativa se torna a Caderneta de Poupança, que possui sua remuneração atrelada à TR, que perde de longe para os aumentos, por exemplo, verificados nos títulos do Tesouro Direto.
O que fazer nesse cenário?
No dia em que escrevo o presente artigo, julho de 2015, a meta SELIC está em 13,75% ao ano, a maior de 23 países analisados nesse site. Ou seja, o país, no atual cenário, se configura como um ótimo lugar para investir em renda fixa e um péssimo local para se emprestar dinheiro e fazer financiamentos.
Vejamos algo mais prático, analisando a tabela de preços e taxas do Tesouro Direto – clique aqui para conferir o site em que essas informações estão disponíveis.
Cabe dizer que não é tão simples pegar a remuneração de um prefixado e comparar diretamente com a Poupança, devido a algumas especificidades do Tesouro Direto, mais especificamente no que tange à marcação a mercado. Mas… façamos tal comparação mesmo assim.
Se pegarmos a remuneração da Caderneta de Poupança em julho de 2015, verá que está próxima de 0,7% ao mês (0,5% + TR). Anualizando essa taxa chegamos próximos a 8,7% ao ano.
Pensando num período de 3 anos de investimento, o título prefixado, vencimento 2018 e taxa de 13,2% ao ano, daria um retorno total de 45%. Descontando o imposto de renda de 15%, teríamos uma rentabilidade líquida próxima de 38,3%. Já a Caderneta de Poupança, supondo que renda os 8,7% ao ano calculados, ao longo de 3 anos, teria uma rentabilidade de 28%.
Ou seja, quanto maiores as taxas de juros, menos atrativa fica a Poupança.
Mostra-se igualmente importante dizer que nem todo título público, negociado no Tesouro Direto, reage de maneira igual às oscilações da taxa de juros. Não entrando muito a fundo nesse assunto, de maneira geral, se você espera que a taxa SELIC vá continuar subindo, títulos indexados à SELIC são a melhor opção. Caso espere que a taxa SELIC tenha chegado ao seu limite máximo e vá começar a cair, os prefixados se tornam a melhor pedida.
Se deseja ir mais a fundo nesse assunto, clique aqui.
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Mas se por um lado, uma SELIC elevada faz com que os investimentos em títulos do governo se sobressaiam, do lado de quem usa dinheiro dos outros e paga juros, o cenário é caótico.
Os juros do cartão de crédito, para quem entra no rotativo, estão no maior nível em 16 anos, passando dos 300% ao ano (fonte). Os juros cobrados de pessoas físicas no mês de maio foi para 57,27% ao ano, sendo o maior valor desde que a série histórica teve início (fonte). O cheque especial já chegou aos 232% ao ano e financiamentos de veículos subiu para 27,1% (fonte).
Portanto, minha dica, mais do que nunca é: INVISTA EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA. E para mudar seu comportamento, passando de devedor para investidor, aconselho que faça a primeira etapa gratuita do meu curso MUDANÇA DE HÁBITOS FINANCEIROS, clicando aqui. Não deixe para depois e comece sua transformação pessoal/financeira desde já.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
o país cresce menos, tudo piora. Logo, eduque-se financeiramente;
– Aproveite as altas taxas de juros para se educar a não mais fazer empréstimos/financiamentos;
– Ao mesmo tempo, aprenda a investir em ativos atrelados à SELIC, como o Tesouro Direto;
– No Tesouro Direto, tome ciência sobre como escolher os títulos. Para tomar boas decisões leve em consideração não só a taxa básica de juros, mas também a inflação. Aprenda como fazer tal análise clicando aqui.
É isso aí.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!