Antes de ler o artigo, reflita sobre as seguintes questões relacionadas à liderança dentro do ambiente familiar:
1) É comum você discutir com seu parceiro/parceira sobre como o dinheiro deve ser gasto?
2) O assunto FINANÇAS causa mais desgaste ou união entre o casal?
3) Se está descontente com a situação, você saberia liderar um processo de mudança sozinho(a)?
Se essas perguntas intrigaram-lhe, precisa ler todo esse artigo URGENTEMENTE
* outros artigos sobre o tema podem ser acessados clicando aqui).
Liderança aplicada à família
Creio ser bastante razoável dizer que a família é uma das principais fontes de influência na maneira que nós, brasileiros, pensamos em dinheiro – se não a maior.
Em casa aprendemos desde a infância, observando e escutando os mais velhos (pais, tios, avós), a criar vínculos emocionais em relação a questões envolvendo receitas e despesas.
E tais vínculos acabam aparecendo, de uma maneira ou de outra na vida adulta, ao constituir a própria família.
Apesar de não ser algo hereditário, transmitido pelos genes, acredito que boa parte do sucesso ou fracasso financeiro pessoal pode ser explicado pelos paradigmas aprendidos dentro de casa.
E devido à relevância de tal assunto, decidi escrever o presente artigo, em que buscarei apresentar um caminho para aquelas famílias que, mesmo demonstrando muito carinho e afeto entre seus componentes, possuem sérias divergências quando o assunto se refere ao gerenciamento do orçamento doméstico.
LIDERAR esse processo é preciso. Essencial. E vou lhe dar ótimas dicas a seguir.
Origem dos conflitos familiares
Conheço muitas pessoas que consideram a família a instituição mais importante de suas vidas – particularmente, esse é também meu ponto de vista.
Porém, todos sabemos que a realidade não é um conto de fadas, e que em determinadas situações cria-se um ambiente hostil nas relações entre pais e filhos, irmãos, marido e esposa.
São os chamados conflitos familiares, sendo que nosso foco se dará em relação às questões puramente financeiras.
Os conflitos familiares têm sua origem na diversidade de opiniões. Tomemos como exemplo o caso entre marido e esposa.
Cada qual, por maior que seja a afinidade sentimental, possui uma criação peculiar, recebida de seus familiares, em relação ao dinheiro.
Não é incomum encontrar casais que, constantemente, se desentendem sobre como gerenciar o orçamento doméstico, simplesmente por enxergarem a vida financeira sob óticas diferentes. Falta liderança!
Portanto, por mais sintonizados que duas ou mais pessoas sejam, sempre existirão opiniões divergentes, pois nenhum ser humano é igual a outro. Em se tratando, especificamente, de finanças pessoais, conflitos familiares certamente surgirão.
Porém, a sabedoria está exatamente em lidar com as diferenças, transformando a ocasião em um fortalecimento da família ao invés de desunião. É sobre isso que esse artigo se destina.
Pense ganha-ganha
Não é preciso ser um estudioso do comportamento humano para verificar que o pensamento ganha-perde está disseminado em nossa sociedade.
Isso significa que ao buscar a solução de um conflito, busca-se defender os interesses pessoais em detrimento dos anseios alheios.
O paradigma é: se alguém ganha, outro deve sair perdendo. Dessa forma, dissemina-se a ideia de que é preciso manipular a contraparte envolvida de modo a forçá-la fazer o máximo de concessões.
Então, surgem discussões, brigas, até que alguém acabe cedendo.
Esse ponto de vista não é salutar em situação alguma, muito menos naquelas envolvendo o orçamento familiar. T
oda vez que alguém sai perdendo num processo de negociação sobre como gastar o dinheiro da casa, é realizado um saque em sua poupança emocional.
Talvez o autoritarismo ou manipulação de quem ganhou a lide pareça resolver o problema de imediato, mas existirão reflexos negativos nas futuras relações, principalmente naquelas que não envolverão dinheiro.
Portanto, se está lendo esse artigo e quer evitar conflitos familiares, é preciso pensar ganha-ganha.
Principalmente se você for o(a) principal provedor(a) de sua família, em que tal posição acarretará na vontade de resolver tudo a seu modo quando houver discussão sobre como alocar os recursos financeiros.
Pensar ganha-ganha pode ser traduzido como: defenda a visão da outra pessoa como se fosse a sua.
Para quem está acostumado apenas a dar ordens, isso não será nada fácil, mas se estiver seguro de si, irá se espantar ao ver como as coisas serão diferentes.
Prepare-se emocional e mentalmente para rejeitar qualquer acordo que não seja satisfatório para todos os envolvidos da família. Mostre sua disposição em querer o melhor para o outro.
Como consequência acabará desarmando essa pessoa e trazendo-a para junto de si. Escute (sem ataques prévios) a opinião alheia e use a diversidade de opiniões para aflorar sua criatividade – cogite soluções que nunca foram pensadas antes.
Deixe bem claro: se alguém for sair perdendo, NADA FEITO: adia-se a decisão até que uma melhor solução apareça.
Ao invés do autoritarismo ou manipulação, use da franqueza, sinceridade e honestidade.
Isso melhorará exponencialmente a comunicação dos membros da família.
Obviamente tal atitude exigirá grandes sacrifícios iniciais, em que será preciso deixar em “banho-maria” os próprios interesses para entender o dos outros.
É o tal “dar um passo atrás para, só depois, dar dois à frente”. Lembre que está fazendo algo transformador em prol da instituição mais importante de sua vida, que é a família.
Essa será sua fonte de energia interna para ter a paciência necessária de forma a criar um novo ambiente, com o mínimo de conflitos.
Exemplos de diálogos
A seguir, veja exemplo de dois diálogos, em que a Situação 1 representa o ganha-perde, e a Situação 2 a busca de um ganha-ganha.
Situação 1 (ganha-perde/falta de liderança):
Esposa: precisamos trocar o meu carro.
Marido: nem pensar, não temos dinheiro para isso.
Esposa: mas…
Marido: pare com essa conversa; sou eu quem cuido do dinheiro da casa.
Situação 2 (em busca do ganha-ganha/ liderança empática):
Esposa: precisamos trocar o meu carro.
Marido: o que te leva a pensar assim, amor?
Esposa: ele está dando alguns problemas e não quero mais carro sem direção hidráulica.
Marido: em relação aos problemas do carro, amanhã vou levá-lo ao mecânico para ver se dou um jeito. Pode ser?
Esposa: Ok, mas isso não resolve a questão da direção hidráulica. O que acontece é que aquele desconforto que tenho no ombro, você sabe né? Acho que está se agravando com essa direção dura. Quando dirijo o dia todo, o ombro dói muito a noite.
Marido: o que você acha de ficar com o meu carro, que tem direção, daí eu fico com o seu?
Esposa: mas assim você sai prejudicado…
Marido: é que agora parece ser o que podemos fazer. Se trocarmos de carro agora, precisaremos contrair uma dívida que não virá em boa hora. Não creio que trocar de carro seja a melhor opção, no momento. O que pensa sobre isso?
Esposa: bem… e se revezássemos o uso do carro com direção hidráulica? Nos dias em que eu precisar usá-lo o dia todo, fico com o hidráulico. Naqueles em que só precisarei sair para levar nosso filho à escola, você fica com ele. Acho que já melhoraria bastante a meu desconforto com o ombro.
Marido: eu ainda acho que pode ficar com o meu todos os dias. Mas vamos fazer esse teste, de revezarmos o carro, na próxima semana? Se ficar ruim, achamos outra solução. Ah, e prometo fazer uma massagem no seu ombro sempre que estiver doendo. Se persistir, vamos ao médico tratar esse problema.
Esposa: perfeito, vamos tentar… te amo.
Deu para perceber a diferença no diálogo, logo na primeira frase do marido? É isso que chamo de usar a liberdade de escolha de maneira inteligente. Treinar a reação para chegar a uma solução melhor que as duas alternativas óbvias, de trocar ou não o carro da esposa. É encontrar uma terceira alternativa, que satisfaça a ambos, que só é possível de prosperar se houver uma relação de plena confiança entre as partes. A chave para isso é desejar ao próximo algo tão bom quanto deseja a si. Isso é liderança. Isso é autoridade.
Considerações finais
Dia desses, lembrei-me de um conceito bastante adequado ao tema, denominado Eficiência de Pareto.
Atingir tal eficiência significa que não haverá mais a possibilidade de melhorar a situação de alguém, sem prejudicar de outrem.
Visto de outra forma, uma melhoria de Pareto significa encontrar uma alternativa que melhore a vida de ao menos uma pessoa, sem prejudicar as outras envolvidas.
Essa ideia, de um economista italiano (Valfrido Pareto) nascido no século XIX, vem bem a calhar quando o assunto liderança dentro do ambiente familiar.
Em um ambiente em que o ganha-ganha é instaurado, todos se sentem mais confortáveis em dar suas opiniões, respeitando sempre o ponto de vista alheio.
É difícil colocar tais ideias em prática?
A resposta é sim, mas acredito ser essa a melhor (e única) saída para uma construção verdadeira e duradoura de cumplicidade familiar.
Para finalizar, me ocorreu um trecho de uma música de Raul Seixas, perfeita para sintetizar o que há por trás do ganha-ganha: “sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto, é realidade”.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.
OBS: a ideia desse artigo, mais especificamente sobre a questão do ganha-ganha, foi inspirada no livro “O 8º hábito: da eficiência à grandeza”, de Stephen Covey. Recomendo fortemente a leitura.