Neuroeconomia e finanças pessoais
A teoria econômica, há muitos anos, tem se deparado com o desafio explicar os sentimentos e pensamentos das pessoas, em suas tomadas de decisões cotidianas. A questão da racionalidade, por exemplo, é uma “pedra no sapato” dos estudiosos dessa área do conhecimento, pois elaborar modelos sobre como as pessoas decidem não é nada fácil.
Dentro desse contexto e partindo da constatação de que toda atividade econômica envolve o uso do cérebro, a neurociência vem cada vez mais ganhando espaço dentro dos estudos envolvendo comportamento do consumidor. Lançando mão de ferramentas modernas que permitem mapear o cérebro através de imagens, além de outros métodos, argumenta-se ser possível comparar o comportamento de diferentes pessoas, em distintas situações.
Atualmente, pesquisadores diferenciam o cérebro por regiões, sendo que cada uma delas possui papel relevante em nossas atitudes de consumo. Fazendo uma analogia simples, o cérebro pode ser comparado a uma empresa, com áreas especializadas em diversas funções, mas que se comunicam entre si. Todo esse processo interligado influencia nas decisões diárias e são analisadas pelo que se convencionou chamar de neuroeconomia.
Dessa forma, esse “novo” ramo da ciência pretende desvendar como o cérebro se comporta diante de decisões econômicas, em um ambiente em que os indivíduos dão valor às coisas e possuem diversas alternativas de consumo.
Uma classificação importante para a neuroeconomia são os denominados processos automáticos e controlados. Processos automáticos são decisões rápidas e eficientes, com alto grau de especialização, relativamente inflexíveis e imprescindíveis para o dia a dia. Já os processos controlados são ações tomadas com o uso das faculdades cognitivas desenvolvidas pelos seres humanos, sendo mais flexíveis e capazes de suportar uma grande variedade de objetivos. Todavia, quando comparado ao processo automático, o controlado é geralmente mais lento para ser empreendido e depende de mecanismos cerebrais com capacidade limitada de processamento de informações.
Traduzindo esses termos para situações envolvendo consumo, argumenta-se que existem situações em que decidimos de forma automática. São compras bastante suscetíveis ao impulso, em que não há um refinado julgamento sobre a necessidade da aquisição. Por outro lado, também gastamos nosso dinheiro através de mecanismos mais controlados, que envolvem um tempo maior de reflexão (geralmente, despesas de maior valor). Apesar dessa maior reflexão, o processo controlado não está imune a erros.
Outro objeto de estudo da neuroeconomia que gostaria de citar baseia-se na distinção entre decisões baseadas na emoção e na deliberação. Decisões emocionais geralmente são rápidas, podendo ser consideradas como uma resposta a diversos estímulos ou eventos. Já a deliberação baseia-se em um processo de decisão pautado na reflexão, discussão e planejamento. Apesar de emoção e deliberação possuírem substratos neurais em comum, está cada vez mais claro para a neuroeconomia que eles advêm de diferentes componentes.
O que podemos notar, através dos conceitos apresentados, é que outros ramos da ciência, além da teoria econômica, têm ajudado no entendimento sobre os comportamentos dos consumidores. E tais descobertas, como as apresentadas nos últimos anos pela neuroeconomia, irão permitir a elaboração de ferramentas mais eficazes para o controle das tomadas de decisão, permitindo um melhor uso de nossa capacidade de decisões automáticas e emocionais, além de melhores técnicas para desenvolver a capacidade de controlar eficientemente as decisões deliberativas.
É isso aí. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
Texto baseado nas leituras das seguintes fontes:
CAMERER, C. F.; LOEWENSTEIN, G.; PRELEC, D. Neuroeconomics: why economics needs brain. Scandinavian Journal of Economics, 106(3), p. 555 – 579, 2004.
SANFEY, A. G. et al. Neuroeconomics: cross-currents in research on decision making. TRENDS in Cognitive Science, v. 10, n.3, 2006.
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