Precisamos estar atentos para nossas escolhas, sem virarmos uns robôs comandados pelas vontades alheias.
Estou um pouco cansado dessas regrinhas para se viver bem – como se existisse uma fórmula mágica para ser feliz ou bem sucedido.
O que tem acabado com minha paciência é que basta ligar a TV em algum canal, e já vem alguém me ensinando como ter saúde, da seguinte forma robótica: faça exercícios físicos, X vezes por semana, no mínimo Y horas por dia, em velocidade média acima de Z km/hora, e se possível utilize um contador de passos em uma caminhada, pois pesquisa de um cientista da Conchinchina chegou à conclusão que tal atividade física só faz efeito se você der, no mínimo, N passos.
Entretanto, o que mais me deixa nervoso é quando vem à tona a questão nutricional. Dia desses deparei-me, na TV, com um médico falando que ao ingerir acima de tantos gramas de carne vermelha por dia, a expectativa de vida diminui em 13%. Quase me deu vontade de ligar para o especialista, dizendo que a minha expectativa de vida (calculada arbitrariamente por mim) é de 120 anos, e que 13% não vai me fazer tanta diferença assim. Demonizam a carne vermelha, o café, o açúcar, o ovo, o sal… Nem suco mais pode: “é preciso comer a fruta in natura, devido às fibras que ajudam na digestão”. Ahhh, e já ia me esquecendo, quem deve escolher meu cardápio é um profissional da área. Minha vontade e meus desejos que se lasquem.
Provavelmente um nutricionista ficará perplexo com esse meu desabafo e fará comentários neste post criticando-me. Porém, o que desejo expressar aqui é como estou me sentindo em relação às informações vindas da mídia. Parece que estão me incentivando a sentir culpa de comer o que gosto, e sentir prazer em coisas que eu não gosto. Estão querendo me programar, tal qual um robô, talvez para aumentar minha vida útil.
Por que estou falando sobre esse assunto num blog voltado às finanças pessoais?
Porque também, muitas vezes, nós (especialistas em finanças) oferecemos um conjunto de regras que, se seguidas à risca, prometem levar a pessoa ao sucesso financeiro. Como militante na área, acho tais sugestões muito importantes, mas talvez para alguns, seja o mesmo porre do que eu escutar sobre o que devo fazer para ter saúde.
Creio que os especialistas, em qualquer área que seja, têm o direito de alertar seus “clientes”, dando dicas sobre como proceder em determinada área do conhecimento. Mas esses mesmos especialistas (inclusive eu) precisam ter o cuidado de aceitar individualidades, saber que não somos robôs e que a graça da vida é que não agimos de maneira igual. Certamente as receitas que oferecemos não servem para todos, mesmo que acreditemos piamente que sim.
Em se tratando de dinheiro, acredito que este deve ser aproveitado da melhor forma possível, a depender de cada indivíduo, pois (como diria a música de Caetano Veloso) cada um “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Quanto à minha alimentação e saúde, evito exageros, mas não me inclino a uma alimentação baseada em tabelinhas, regrinhas, quantidade de cores dos alimentos do meu prato, nem pratico esporte por obrigação (só por prazer).
Para terminar o assunto (está com cara de desabafo, não?), meu amigo Rafael Seabra, do blog Quero Ficar Rico, recentemente publicou artigo com título interessantíssimo: Viver ou juntar dinheiro? Escolho os dois. Acredito ser esse o caminho: de maneira inteligente, conciliar educação financeira com bem estar, prazer, felicidade. Do contrário, corre-se o risco de muitas pessoas se sentirem aviltadas por darmos a entender que estamos dizendo onde elas devem aplicar SEU próprio dinheiro, da mesma forma que eu estou irritado com especialistas me dizendo o que devo ou não comer.
Salve o torresminho com cerveja!!!!
OBS: também considero esse texto (extremamente) politicamente incorreto, mas nada como escrever o que sente para servir como terapia.
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