Compreenda o valor do dinheiro no tempo
Você já deve ter ouvido ou lido algo do tipo:
“evite comprar um produto financiado, pois ao final das prestações, você acaba pagando duas vezes o valor do produto”.
Para compreender de onde surge esse tipo de afirmação, vamos a um exemplo.
Compra-se um produto que tem seu preço à vista de R$2.000,00, em 60 parcelas de R$70,00. A conta que é feita resume-se em multiplicar os $70,00 por 60 e chegar ao valor de R$4.200,00. Nessa lógica, acaba-se pagando mais que o dobro do preço à vista.
Porém, existe um ERRO nesse tipo de cálculo e buscarei esclarecer o motivo ao longo desse artigo.
VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO
A primeira questão para explicar a causa do ERRO a que me referi anteriormente, é compreender que o dinheiro tem valor no tempo. Vamos analisar esse fato com outro exemplo: você prefere ganhar R$10.000,00 HOJE ou esse mesmo valor daqui a DOIS ANOS?
Sem nenhuma sombra de dúvidas é preferível ter o dinheiro hoje por dois motivos básicos:
1) Você pode aplicar os R$10.000,00 hoje e ter mais dinheiro daqui a dois anos, devido aos juros recebidos;
2) E também no caso de haver inflação no período, ou seja, aumento de preços ao longo do tempo, R$10.000,00 HOJE compram mais bens e serviços do que essa mesma quantia depois de dois anos.
Note, portanto, que os mesmos R$10.000,00 não valem a mesma coisa, se considerados em períodos diferentes do tempo.
Bem, voltando ao exemplo de financiamento do início do texto, por analogia também se pode afirmar que cada uma das parcelas de R$70,00 valem diferentemente, pois serão pagas em meses distintos. Logo, chega-se a uma conclusão que deixará alguns “entendidos” no assunto boquiabertos: o valor das parcelas NÃO PODE ser somado, simplesmente porque cada parcela se refere a períodos de tempo diferentes.
Para efeito de simplicidade de exposição de uma matéria ou artigo, a abordagem até pode ser conveniente para convencer o leitor/telespectador, mas este é um cálculo conceitualmente ERRADO.
FIQUE DE OLHO NAS TAXAS DE JUROS
Na impossibilidade de se somar o valor das parcelas de um financiamento para tomar decisões, qual o principal parâmetro a ser analisado?
RESPOSTA: a taxa de juros.
Para explicar a razão disso, continuemos a nossa série de exemplos. Compare as seguintes possibilidades:
OPÇÃO 1: financiar a compra de um bem no valor de R$3.000,00 em 12 parcelas de R$270,98
ou
OPÇÃO 2: comprar o mesmo bem em 60 parcelas de R$57,71
Seguindo a errônea lógica da soma de parcelas, a OPÇÃO 1 seria a mais interessante, pois 12 vezes R$270,98 é igual a R$3.251,70. Tal valor é menor que 60 vezes R$57,71, que representa um montante de R$3.462,59 da OPÇÃO 2.
Porém, se calcularmos a taxa de juros de ambos os financiamentos (veja como AQUI) veremos que a OPÇÃO 1 é agora a pior alternativa, pois possui uma taxa de juros de 1,5% ao mês, enquanto a taxa de juros da OPÇÃO 2 é de apenas 0,5% ao mês.
Dá para perceber o problema? Segundo o critério da soma de parcelas, aceitaríamos um financiamento com taxa de juros maior, algo um tanto quanto incoerente.
Tal exemplo ajuda a compreender a conclusão de que somar parcelas não é um bom critério para qualquer análise financeira que se faça, simplesmente por se tratar de um cálculo sem sustentação matemática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Importante deixar claro que em uma tomada de decisão sobre financiamentos, não é apenas a taxa de juros que acaba por ser considerada.
Seguindo o raciocínio que, em geral, financiamentos de prazos maiores, possuem riscos e taxas de juros maiores, parece ser racional fazer financiamentos com prazos curtos, em busca de menores taxas.
Porém, nem sempre isso é possível. Ao diminuir o prazo, mesmo com juros menores, as parcelas podem ficar demasiadamente altas a ponto de inviabilizar a compra do bem ou serviço.
Isso significa que em uma análise de decisão, deve ser considerada também a capacidade de pagamento mensal das parcelas
. Mas essa é outra história, que não justifica o erro de análise de somar parcelas de financiamentos, para chegar a qualquer tipo de conclusão.
É isso aí pessoa, boa sorte em sua vida e finanças pessoais!