Ao final de mais um dia de trabalho intenso, Juca estava, como de costume, caminhando rumo à sua casa, quando viu um senhor sentado em uma cadeira, em meio ao caos da multidão, com uma plaquinha: SÁBIO. Achou a situação bastante estranha, mas resolveu bater um papo com aquele indivíduo, para dar uma aliviada no estresse. A seguir, apresento o diálogo que se seguiu a partir de então.
JUCA: Olá, seu Sábio.
SÁBIO: Olá, sente-se meu amigo.
Juca não havia percebido, mas o Sábio possuía outra cadeira atrás de si, e a puxou para que Juca pudesse se sentar.
JUCA: Muito obrigado.
E Juca sentou-se.
SÁBIO: Qual o seu nome?
JUCA: Chamam-me de Juca.
SÁBIO: Ok, seu Juca. Parece-me bastante esgotado. Tem trabalhado muito?
JUCA: E como! Na verdade, como todo mundo deveria fazer, né?
Nesse momento era possível perceber certo ar de escárnio nas palavras de Juca, dando a entender que o Sábio provavelmente não era dos mais afeitos ao trabalho, já que estava ali sentando, com aquela plaquinha… Mas o Sábio não se abateu e continuou a conversa.
SÁBIO: Sente que tem valido a pena todo esse esforço?
JUCA: Com certeza. É preciso pagar as contas ao final do mês, não acha?
Mais uma vez, um sorriso jocoso, de canto de boca, estampava-se na feição de Juca.
SÁBIO: E as contas são muitas?
JUCA: As de sempre. Preciso me alimentar, comprar roupas, pagar o financiamento da casa. O carro também dá bastante despesa. E os gastos com os filhos, então? Estão pela hora da morte. A vida não está fácil para ninguém.
SÁBIO: Pelo que estou vendo, apesar de todo o esforço, a vida não lhe parece tão boa…
Juca mudou de feição. Aquilo lhe afrontara. Pois, como uma pessoa sentada na calçada, que nem lhe conhecia, poderia dizer que não tinha uma vida boa? Assim, retrucou com certa irritação.
JUCA: Olha, doutor sabichão, para seu conhecimento, minha vida é excelente. Tenho minha casa, meu carro, um bom trabalho, sustento minha família com dignidade e sou muito feliz assim.
SÁBIO: Será?
JUCA: Se eu estou falando, quem seria o senhor para discordar?
SÁBIO: Eu não estou discordando, apenas perguntando para que você reflita melhor sobre suas próprias argumentações. Você me disse que tem casa, carro, trabalho, dinheiro para sustentar a família, mas apenas isso é suficiente para fazê-lo feliz?
JUCA: É óbvio que gostaria de mais coisas, mais dinheiro para não me preocupar com as contas no final do mês, mas isso é um sonho que poucos sortudos conseguem realizar. O negócio é ralar, dar duro e ir vivendo!
SÁBIO: Senhor Juca, não discordo de sua opinião de que é preciso se esforçar para conquistar as coisas. Mas o ponto que estou querendo tocar é sobre sua felicidade, e não das coisas materiais que pode conquistar com o dinheiro.
JUCA: Ahhh, não me venha com essa. Sem dinheiro no bolso, não se consegue ser feliz.
SÁBIO: Concordo que a falta de dinheiro pode causar muitos problemas. Mas a questão é: mesmo o senhor cumprindo com todas as suas obrigações financeiras, tem dado conta de curtir sua vida?
JUCA: Kkkkkkkkkkkkk, curtir a vida? Como? Sentado na calçada se dizendo um Sábio, em pleno dia útil?
Juca fez um movimento de se levantar da cadeira, pois já estava cansado daquele blá blá blá. Foi quando o sábio disse algumas palavras que lhe fizeram sentar novamente.
SÁBIO: Olha seu Juca, com todo o respeito, não é comparando a minha vida à sua, que seus problemas se resolverão. O senhor se sentou aqui por livre e espontânea vontade, e minha intenção resume-se apenas em ajudá-lo a encontrar suas próprias respostas. Fazer com que em meio à correria do dia a dia, possa pensar um pouco em si, entendendo o modo como se comporta e quais consequências isso gera. Enfim, gostaria apenas de ajudá-lo a pensar o que pode fazer pela sua vida e à dos outros, ao invés de ficar esperando apenas que a vida faça algo pelo senhor.
Essas palavras tocaram fundo nos sentimentos de Juca. E ambos ficaram em silêncio, por alguns segundos.
JUCA: Então, qual o seu conselho de Sábio para mim?
SÁBIO: Creio que um primeiro passo seja olhar para dentro de si. Abrir seu coração, vasculhar bem no fundo da alma quais são suas prioridades. A partir dessa reflexão, verificar o que tem feito para conseguir atingir seus objetivos.
JUCA: Tenho feito o possível…
SÁBIO: Mas será que tem feito as coisas certas?
E mais um momento de profundo silêncio, em meio à correria da multidão, se instaurou. Mas Juca continuou.
JUCA: Se pensar bem, devido ao excesso de trabalho, tenho me descuidado um pouco da saúde, de meus hobbies preferidos, e até tenho andado distante da educação de meus filhos. Isso tem me angustiado um pouco, mas tento esquecer esses problemas, senão perco o foco em meu trabalho. E aí já viu, a coisa que já não está lá as mil maravilhas, pode piorar ainda mais. Mesmo assim, depois de suas palavras, vou tentar arrumar tempo para cuidar mais de mim e minha família. Estou certo?
SÁBIO: Que tal se focasse na administração de sua Energia?
JUCA: O quê?
SÁBIO: É… ao invés de focar na administração do tempo, que tal focar em reservar energia para o que é realmente importante?
JUCA: Olha… preciso tomar meu caminho para casa, mas gostaria de saber mais sobre isso. O senhor estará aqui amanhã, nesse mesmo horário?
SÁBIO: Sim.
JUCA: Então nos encontramos para que me explique essa questão da energia.
SÁBIO: Por mim tudo bem. Até mais ver senhor Juca.
E Juca se foi, mas levando consigo algumas indagações sobre si que lhe inquietavam…