Sou um apaixonado por estudar como as pessoas tomam suas decisões. Um livro simples de compreender e bem bacana sobre o tema foi escrito por Max Bazerman, da Harvard University: Processo Decisório (Editora Campus). Relendo recentemente um de seus capítulos, achei a questão tão interessante que resolvi compartilhar com os leitores deste blog.
Citando diversos autores como referência, Bazerman comenta que pesquisadores descobriram que as pessoas, de maneira geral, usam diversas “estratégias simplificadoras” ou “regras práticas” para tomarem suas decisões (em economia: heurísticas). Tais estratégias simplificadoras mostram-se úteis em diversas ocasiões, para resolver problemas corriqueiros. Porém, em decisões mais complexas, podem levar a “erros nas decisões gerenciais”.
Uma dessas heurísticas citada no livro, tem a ver com a disponibilidade das informações que possuímos. De maneira geral, esse problema está associado à nossa característica de tomar decisões com base em fatos recentes e baseados na experiência (e não em dados estatísticos), na capacidade de recuperar informações de nossa memória e em nossa imperícia quando avaliamos a probabilidade de dois eventos ocorrerem ao mesmo tempo.
Irei comentar mais profundamente este último caso, utilizando exemplo do livro.
Antes de prosseguir com o texto, sugiro que pense em sua resposta sobre a seguinte questão: a maconha está relacionada com a delinquência?
Pensou?
Para responder tal questão, é comum que nosso cérebro tente se lembrar de quantos usuários de maconha são delinquentes e, a partir daí, aceitar ou não uma correlação entre essas duas variáveis.
Entretanto, uma análise mais adequada deveria ser realizada levando-se em consideração quatro cenários: 1) usuários de maconha delinquentes; 2) usuários de maconha que não são delinquentes; 3) delinquentes que não usam maconha; 4) além de pessoas que não são delinquentes, muito menos usuárias da erva.
Pesquisadores perceberam que nosso cérebro, muitas vezes, se limita a julgar uma situação com base na disponibilidade de exemplos (usuários E delinquentes) que nos recordamos. Ao pensar apenas nos casos de usuários delinquentes que conhecemos, deixamos de lado, por exemplo, a análise de qual percentual de delinquentes usa maconha: talvez essa correlação seja baixa, fazendo cair por terra a suposta relação de causalidade entre a referida droga e a “marginalidade”.
Outra análise que deveria ser feita é de quantos usuários existem e não possuem comportamento associados à delinquência. Responder a essa questão também é interessante, à medida que se apenas uma pequeníssima fração do total de usuários for delinquente, provavelmente o uso da droga não tenha correlação com um comportamento “marginal”.
Ao finalizar a discussão do tema, Bazerman explica que a citada heurística da disponibilidade, que significa avaliar a probabilidade de um evento com base nos exemplos disponíveis na sua memória, leva a graves erros de decisões gerenciais, e dá seu veredicto: “Pressupomos com muita facilidade que nossas lembranças disponíveis são verdadeiramente representativas de um conjunto maior de eventos que existe fora do alcance de nossa experiência”.
Em termos científicos e, principalmente, para nossas decisões cotidianas (não só financeiras), é importante que reconheçamos nossas limitações quanto à analise de decisões, para que possamos criar maneiras de diminuir a probabilidade de erros.
É isso aí. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.