Provavelmente, eu nunca tenha falado de política nesse blog, que é dedicado a finanças pessoais. Mas após a absolvição dos 8 réus do mensalão em relação ao crime de formação de quadrilha, li algumas declarações de aliados petistas que me fizeram ter vontade de escrever algo sobre o assunto. Veja tais declarações abaixo:
“A decisão mostrou que o Supremo vale para condenar como para absolver. O PT sempre disse que não formou quadrilha coisa nenhuma. Ganhou a Justiça, independentemente de ser contra ou a favor do PT.” (José Guimarães, PT-CE, irmão de José Genoíno).
“O deputado Vicentinho (SP), disse que o julgamento do mensalão, na época das eleições, teve o objetivo de ‘avacalhar o PT’ e que o partido cresceu no pleito para prefeitos e vereadores, mesmo assim. Para ele, o julgamento foi “contaminado” na época e agora a ‘Justiça foi feita’.”
Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/oposicao-lamenta-decisao-do-stf-pt-defende-11736518
Existiram outras, mas vou parar por aqui, pois já bastam para o que vou expor a seguir.
Robert Cialdini, em seu interessante livro O Poder da Persuação, cita o caso de 3 cientistas que há décadas atrás estudaram um grupo de fanáticos religiosos na cidade de Chicago (Estados Unidos), em que seus líderes previam o fim do mundo. Todo o planeta seria devastado por uma grande enchente. Entretanto, quem acreditasse nas palavras proferidas pelos líderes, seriam salvos por discos voadores.
Os pesquisadores, que se infiltraram dentro do grupo, perceberam duas características comportamentais importantes entre seus membros, enquanto se preparavam para a catástrofe.
1) O nível de compromisso era altíssimo. Não mediam esforços e as consequências, para justificar seus atos. Foram ameaçados por vizinhos, parentes entraram na justiça para declará-los incapazes, alguns pediram a conta do emprego, e outros até largaram os estudos. O objetivo? Se dedicar integralmente à causa.
2) Havia uma curiosa forma de inação. Em meio aos preparativos para a grande enchente, eles pouco faziam para difundir sua palavra. Preferiam manter segredo sobre o que sabiam.
Pois bem, para encurtar a história (e como deve saber), na data marcada para os alienígenas salvarem os integrantes do grupo, nada aconteceu. Mas um fato notável aconteceu durante a espera pela catástrofe. A líder do grupo leu uma transcrição divina: “o pequeno grupo, sentado sozinho durante toda a noite, havia difundido tão amplamente a luz, que Deus havia salvado o mundo da destruição”.
A partir de então, o grupo se agarrou em tal justificativa, e começou a dar publicidade ao seu ato de heroísmo. E mais, os segredos começaram a ser revelados e a inação por recrutar novos membros havida sumido. Pregavam suas ideias como nunca.
E a pergunta que surge é: como uma desilusão tão grande não despertou a ira dos integrantes do grupo? Ou melhor, como uma desilusão pôde aumentar ainda mais sua fé?
A explicação, segundo os pesquisadores, encontra-se na terrível sensação dos integrantes do grupo de que todo seu sistema de crenças era falso. Como poderiam ter abdicado de tantas coisas, rompido tantos relacionamentos, por nada? A vergonha, o custo econômico e a gozação seriam grandes demais para poderem suportar. Era preciso manter a coerência e acreditar em algo, por mais estapafúrdio que fosse. “Nenhuma outra verdade era tolerável”.
Voltando às declarações dos aliados petistas, citadas acima, não me considero acima do bem e do mal, para julgar quais motivações os levaram a “cantar vitória”. Muito menos sou a pessoa mais indicada para julgar o mérito jurídico da questão.
Porém, quando as li, veio-me instantaneamente à cabeça o caso do suposto fim do mundo que acabei de relatar. Pus-me a pensar se não havia alguma semelhança entre os membros do culto e os aliados petistas. Será que não teriam suportado encarar o fato de que nunca seriam salvos por um alienígena? Em caso positivo, faz sentido não conseguirem encarar nenhum outro tipo de verdade, senão as crenças cultivadas por anos e anos.