Características das decisões
Dia desses, deparei-me com um interessante artigo publicado pelo blog Valores Reais, intitulado: Como avaliar se “qualquer coisa” tem uma boa relação custo/benefício.
Apesar de o método proposto fazer todo o sentido, nem sempre tomar decisões racionais é algo fácil de ser incorporado na vida de cada um de nós. Por isso decidi contribuir com a discussão, acrescentando mais alguns elementos à questão.
Robert Clemen, em seu livro Making Hard Decisions, apresenta quatro fatores que podem tornar nossas decisões difíceis. São elas:
1) Complexidade
Em certas ocasiões nos deparamos com decisões relativamente simples, como, por exemplo, escolher em qual restaurante almoçar no sábado, com a família. Levamos em conta nossas preferências, preço da refeição, localização, facilidade de estacionamento, qualidade do atendimento, dentre outros fatores.
Após analisados tais fatores, a família chega a um consenso (talvez não!) e uma escolha que não seja a ótima, também não trará consequências tão danosas.
Por outro lado, existem decisões muito mais complexas, em que fazer uma análise considerando todas as variáveis pode se mostrar extremamente difícil. Sair do emprego atual e abrir o próprio negócio é um bom exemplo.
Definir todas as variáveis que influenciam na decisão, identificar alternativas e considerar (e estimar) todos os diferentes resultados, não é tarefa trivial. Fazer uma análise de custo/benefício em uma situação dessas pode exigir conhecimentos mais aprofundados que limitem uma boa tomada de decisão.
2) Incerteza
Em algumas situações, o principal problema é o alto grau de incerteza quanto às variáveis que afetam nossas decisões.
Se uma pessoa está pensando em se casar, uma análise de custo/benefício torna-se complicada por haver diversas incertezas envolvidas.
Vejamos apenas duas delas: será que daqui a três anos eu estarei apaixonado(a) da mesma forma que estou hoje? Será que não encontrarei alguém muito mais interessante no futuro?
Neste caso, existem incertezas envolvidas que são muito importantes de serem analisadas em uma decisão racional, porém com baixíssimo grau de previsibilidade.
E isso pode ser aplicado a diversas situações, como o lançamento de um produto, em que não se sabe, com certeza: o tamanho do mercado, qual o preço que conseguirá obter na venda do produto no futuro, se haverá surgimento de novos competidores, quais serão os custos de produção e distribuição do produto, e por aí vai.
Fazer estimativas e equacionar tudo isso em números é possível, porém não é nada fácil.
3) Múltiplos objetivos
A pessoa que toma uma decisão pode estar interessada em trabalhar com vários objetivos ao mesmo tempo. Todavia, o progresso de um pode impedir que se atinja outros.
Muitas vezes precisamos fazer um trade off entre os benefícios em certa área e os custos em outra. Um exemplo simples é: quanto mais eu trabalhar, mais conseguirei ganhar dinheiro (objetivo 1); por outro lado, irei passar menos tempo ao lado da família (objetivo 2).
Perceba que esta não é uma análise de custo/benefício de uma só decisão (compro ou não compro um carro).
A questão é que não se consegue, em certos casos, limitar as consequências de uma decisão a apenas um objetivo. Mais uma vez, quando isso ocorre não é nada fácil encontrar o melhor caminho.
4) Diferentes perspectivas
A questão nesse ponto advém da seguinte questão: diferentes perspectivas levam a diferentes conclusões. Esse tipo de dificuldade aparece, principalmente, quando mais de uma pessoa está envolvida no processo de tomada de decisões. Um casal, por exemplo, pode olhar para um mesmo problema através de perspectivas diferentes, discordar sobre a probabilidade de algo acontecer, ou até mesmo diferir na análise sobre quais serão os possíveis resultados.
Exemplo comum está na decisão de um casal em ter filhos. Uma das partes pode querer antecipar a alegria imensa de ter um filho, enquanto a outra dá um maior peso à questão econômica (um filho aumentaria muito as despesas) e decida adiar ou simplesmente abandonar a ideia de aumentar a família.
Como ser pode notar, em certas circunstâncias, tomar decisões não é fácil, mesmo que se analise a questão de maneira racional.
OBS: ter consciência da complexidade do processo de tomada de decisão não justifica omissão, pois a intenção é conhecê-lo para melhorá-lo.
É isso aí pessoal. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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