Previdência Privada
Certo dia, um casal preocupado com seu futuro financeiro, escreveu-me.
De forma a poupar uma quantia de dinheiro para a aposentadoria, logo providenciaram um plano de previdência privada (Brasilprev), seguindo conselho de seu gerente.
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Durante cinco anos, depositaram religiosamente R$300,00 por mês.
Considerando que o retorno do investimento foi de 8,5% ao ano, ao final de cinco anos a previdência apresentava um saldo bruto (antes do imposto de renda) de R$22.150,14.
Porém, nos últimos meses o casal decidiu aprimorar sua educação financeira, debruçando-se em leituras sobre textos relacionados a investimentos.
Após algum tempo de estudo, analisaram de maneira mais cuidadosa o plano de previdência escolhido e notaram que a rentabilidade histórica era muito penalizada devido a alta taxa de administração cobrada (3% ao ano).
Fazendo uma comparação entre seu plano e outras aplicações em renda fixa, perceberam que seria possível conseguir rentabilidades maiores em investimentos de mesmo padrão de risco.
Então, surgiu a dúvida:
#OPÇÃO 1: sacar todo o dinheiro do plano de previdência e investir em aplicações que esperavam obter taxa de juros maior;
#OPÇÃO 2: deixar o saldo atual de R$22.150,14 no mesmo plano de previdência e iniciar uma nova poupança para o filho, mas agora aplicando em outras opções mais rentáveis.
Num primeiro momento, parece lógico sacar o dinheiro e investi-lo em melhores oportunidades.
Porém, em um plano de previdência privada de regime regressivo, que é o caso desse casal, a alíquota de imposto de renda que incide sobre aplicações realizadas de curto prazo são muito grandes.
Para se ter uma ideia, a rentabilidade sobre os R$300,00 aplicados nos últimos 24 meses seria tributada em 35%. Dessa forma, a dúvida reside em saber se mesmo pagando um alto valor em imposto de renda, vale a pena sacar o valor hoje e aplicá-lo em outra alternativa.
A seguir, serão apresentados alguns cálculos que ajudarão a responder tal questão.
SACAR DINHEIRO DA PREVIDÊNCIA CUSTA CARO
Saber quanto será pago de imposto de renda no momento do saque do valor investido em previdência privada não é algo tão simples.
Todavia, realizei esses cálculos, considerando as regras relativas à tributação do regime regressivo de um VGBL (clique aqui para saber mais).
Do valor bruto acumulado de R$22.150,14, seria possível resgatar apenas R$20.954,42, ou seja, seriam pagos R$1.195,15 a título de imposto de renda.
Para exemplificar como o valor cobrado de imposto de renda é alto nessa situação, se mantivéssemos os mesmos dados do exemplo, porém considerando um título do governo ou CDB, que possuem regras distintas de tributação (veja mais detalhes clicando aqui), o valor de imposto a ser pago seria R$494,16 menor.
Isso significa que há uma grande penalização para quem saca o dinheiro de uma previdência privada no curto prazo, dado que o objetivo é estimular aplicações de longo prazo.
ANÁLISE DE DUAS ALTERNATIVAS POSSÍVEIS
Para calcular qual seria a melhor decisão para o casal, serão analisadas duas hipóteses, apresentadas a seguir.
OBS: cabe dizer que os cálculos serão baseados apenas sobre o saldo atual da previdência, sendo considerado que as futuras aplicações serão destinadas a investimentos com maior perspectiva de retorno.
1) Deixar o dinheiro aplicado na previdência privada (VGBL) durante dez anos
Sabendo que após dez anos da última aplicação, todo o dinheiro será sacado pagando-se uma alíquota de apenas 10% de imposto de renda sobre a rentabilidade, será simulado qual o valor líquido a ser resgatado da previdência privada após esse período.
Considerando que o saldo bruto de R$22.150,14 ficará aplicado durante dez anos, à taxa de 8,5% ao ano, o valor líquido a ser sacado após esse período, já descontado o imposto de renda, seria de R$46.872,98.
2) Sacar o dinheiro hoje da previdência privada e aplicá-lo em alternativa de maior rentabilidade
Para realizar a comparação com o item anterior, foi calculada qual deveria ser a taxa de juros do investimento alternativo para chegar-se ao mesmo saldo de R$46.872,98 após dez anos, porém, com uma aplicação inicial de R$20.954,42 (que é o dinheiro resgatado da previdência, já descontado o imposto de renda).
Considerando uma alíquota de 15% de tributação no resgate do dinheiro de uma renda fixa após um período de dez anos, a taxa de juros obtida foi de aproximadamente 9,4% ao ano. Isso significa que para compensar sacar o dinheiro hoje e investir em outra alternativa, seria necessário obter uma taxa de juros anual de 9,4% ao invés de 8,5% da previdência privada.
RESUMO DOS CENÁRIOS
1) Deixar o dinheiro na previdência privada:
– Saldo inicial de R$22.150,14
– Taxa de juros de 8,5% ao ano
– Valor a ser resgatado (depois do imposto de renda de 10% sobre a rentabilidade) de R$46.872,98 ao final de dez anos
2) Sacar o dinheiro da previdência e aplicar em outra alternativa:
– Saldo inicial de R$20.954,42 (que é o dinheiro resgatado da previdência e com alto valor de imposto de renda pago)
– Foi calculado que a taxa de juros necessária para gerar o mesmo saldo de R$46.872,98 da opção anterior, deveria ser de 9,4% ao ano, durante os próximos dez anos. Ou seja, seria necessário conseguir um ganho de no mínimo 0,9% ao ano, frente à previdência privada, para compensar os prejuízos do resgate com alta incidência de imposto.
CONCLUSÕES GERAIS
Uma primeira intenção do artigo foi apresentar uma metodologia de análise de decisão sobre investimentos. Creio que tal leitura poderá servir de inspiração para outros problemas correlatos.
Uma segunda questão que gostaria de levantar é que a tomada de decisão dependerá de um fator de incerteza importante: será que o casal conseguirá uma rentabilidade 0,9% ao ano maior, durante os próximos dez anos?
Por fim, note que alguns cálculos financeiros podem ser uma importante ferramenta no apoio às decisões sobre seu dinheiro.
Mesmo existindo sempre algumas incertezas quanto aos resultados finais, no mínimo uma análise desse tipo ajuda o investidor a melhorar sua compreensão sobre os resultados que acontecerão futuramente.
É isso aí. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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