Previdência ou Tesouro? A dúvida…
Dia desses um aluno perguntou-me: “professor, com relação à minha aposentadoria, o senhor acha interessante guardar dinheiro em Previdência Privada ou seria melhor o Tesouro Direto?”.
Poderia eu rapidamente sugerir um ou outro, com base em algum argumento válido, mas resolvi responder a essa questão de forma mais abrangente do que um simples: “escolha o investimento X”.
Você vai perceber que o presente artigo, se não elimina todas as dúvidas, pelo menos traz informações valiosas para ajudar em uma boa tomada de decisão – clique aqui e saiba mais sobre como investir dinheiro.
Características do Tesouro Direto e da Previdência Privada
Muitas pessoas relutam em investir no Tesouro Direto, por considerá-lo um investimento um pouco complicado, quando comparado à simplicidade da Caderneta de Poupança. Todavia, escolher um plano de Previdência Privada pode também ser tão ou mais desafiador que títulos do governo. Para compreender essa questão, vejamos algumas características importantes de cada um.
Previdência Privada
– Existem diversos produtos diferentes disponíveis nas instituições financeiras que oferecem essa modalidade de investimento;
– É preciso tomar algumas decisões como: escolher entre PGBL ou VGBL, se deseja tributação regressiva ou progressiva, se o fundo vai investir apenas em renda fixa ou se poderá ter aplicações mais arriscadas como ações, se o benefício será por prazo determinado ou vitalício, e por aí vai;
– Como outros fundos, em Previdência Privada sempre existirá a cobrança de taxa de administração. Algumas instituições também acrescentam uma despesa pouco usual no mundo dos investimentos, a taxa de carregamento. Tais custos influenciam na rentabilidade e, consequentemente, na escolha de qual fundo e instituição financeira optar;
– As variadas modalidades de Previdência também diferem em dois pontos: 1) qual o valor mínimo necessário para iniciar a aplicação e; 2) qual o valor mínimo que deve ser aplicado todo mês. É interessante apontar que, em geral, quanto maior a necessidade de aporte de capital inicial ou mensal, menores serão as taxas cobradas e, provavelmente, maior será a rentabilidade;
Tesouro Direto
– Ao investir em títulos públicos, será preciso decidir qual modalidade escolher (prefixada, Selic ou IPCA) e também o prazo para vencimento do título;
– Nesse investimento incide uma taxa de 0,3% ao ano cobrada pela BM&FBOVESPA e outra taxa paga à corretora onde se está investindo o dinheiro – essa taxa, atualmente, varia de 0% a 0,5% ao ano;
– Alguns títulos são “marcados a mercado”, o que faz com que sua rentabilidade varie muito, quanto mais longo for o vencimento;
– Boas escolhas sobre qual título adquirir passam por uma análise cuidadosa sobre o futuro cenário econômico do país, principalmente com relação à SELIC e inflação.
RENTABILIDADE: ANÁLISE COMPARATIVA
Devido à imensa gama de possibilidades entre os fundos de previdência privada, optou-se por levantar a rentabilidade dos fundos de previdência mais acessíveis ao grande público – leia-se: que exigem menor volume de capital inicial e/ou aportes mensais.
Foram escolhidas previdências que investem exclusivamente em renda fixa, cabendo a ressalva de que uma tarefa que deveria ser simples, tomou um grande tempo deste que vos escreve, pois os sites das instituições financeiras, de maneira geral, são péssimos em oferecer informações importantes.
Na tabela abaixo vemos diferentes fundos de previdência privada, de instituições financeiras distintas, com suas respectivas taxas de administração anual e rentabilidade nos últimos 12 meses.
Primeiramente, note que há uma correlação forte entre:
maior rentabilidade => menor taxa de administração.
Em segundo lugar, na pesquisa observou-se que os fundos que apresentavam melhores rentabilidades passadas eram aqueles que exigiam maior capital inicial/mensal, e que cobravam taxas próximas ou inferiores a 1% ao ano. Já os apresentadas na tabela acima, como já dito, são fundos acessíveis ao grande público, que exigem pouco dinheiro para iniciar a aplicação e que possuem altas taxas.
Outra constatação foi a de que muitos dos fundos de previdência ainda cobram pesadas taxas de carregamento, o que diminuirá substancialmente a rentabilidade final do investimento.
Com relação ao Tesouro Direto, podemos ver as rentabilidades, também nos últimos 12 meses, de seus diferentes índices. Veja a seguir.
Antes de analisar, vamos esclarecer essa sopa de letrinhas.
O IMA, Índice de Mercado Anbima, é uma família de índices que mede a rentabilidade dos títulos negociados no Tesouro Direto. O IRF-M mostra a rentabilidade dos títulos prefixados, o IMA-B representa aqueles indexados ao IPCA, o IMA-S títulos que acompanham a SELIC, sendo que o IMA-GERAL é uma média ponderada de todos esses índices.
Preferiu-se usar tais índices, ao invés de cada um dos títulos individualmente, para se ter uma ideia de como o Tesouro Direto rendeu no agregado.
No geral, note que as rentabilidades dos últimos 12 meses dos títulos do Tesouro Direto são mais elevadas que as modalidades de Previdência apresentadas na tabela anterior. Mesmo não fazendo o cálculo da influência da taxa de administração que não está sendo considerada no Tesouro, e da taxa de carregamento na Previdência, para pessoas que pretendem começar a investir na aposentadoria com pouco dinheiro, o Tesouro se mostra mais rentável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Voltando à pergunta inicial, feita por meu aluno, a conclusão que chegamos é que se ele não tiver um capital inicial interessante para acessar Previdências com baixos custos de operação e consequente maior rentabilidade, parece valer a pena aprender a investir no Tesouro Direto.
Todavia, é preciso aprender a escolher bem os títulos e vencimentos disponíveis, como ensino aqui.
Ou seja, oportunidades não faltam para aprender de uma vez por todas colocar o dinheiro para trabalhar para você.
Importante destacar que não foram consideradas, nessa análise, as diferenças relativas à tributação na data de resgate entre Tesouro e Previdência.
É isso aí, boa sorte em suas finanças e vida pessoal!