Em artigo anterior sobre fundos de investimento em renda fixa, deste Especial Investimentos, foram explicadas algumas características relativas a tributação e taxas de administração.
Nesta etapa do estudo o objetivo é verificar os impactos da taxa de administração e do “come cotas” na rentabilidade dos fundos de renda fixa, no longo prazo.
Dados da Simulação
– Foi considerada uma taxa de juros real (já descontada a inflação) de 6,15% ao ano;
– Os resultados referem-se a períodos de 10, 20 e 30 anos;
– Foram simulados os valores de 0,5%, 1,5% e 3% ao ano de taxa de administração, para verificar o impacto na rentabilidade final desses três percentuais;
– Também foi considerada a tributação semestral de 15% da rentabilidade do período, conhecida popularmente como “come cotas”;
– Os cálculos consideraram depósitos mensais no valor de R$200,00.
Resultados
A Tabela 1 apresenta os saldos líquidos finais das simulações, para diferentes taxas de administração e prazos. Notem que, ao denominar os saldos como líquidos, significa que já foi descontado o imposto de renda no momento do resgate, conforme tabela de tributação em renda fixa.
Tabela 1. Saldo líquido para diversas taxas e períodos (Fundos de Renda Fixa)
Taxas de administração |
Período 0,5% 1,5% 3% |
10 anos R$ 30.501,76 R$ 29.145,44 R$ 27.232,82 |
20 anos R$ 79.116,06 R$ 71.778,98 R$ 62.205,10 |
30 anos R$ 156.577,12 R$ 129.328,18 R$ 107.108,70 |
É possível verificar na Tabela 1 que conforme as taxas de administração aumentam seu percentual, obviamente os saldos líquidos finais diminuem.
Em 20 anos, por exemplo, a diferença de saldo líquido entre uma aplicação com taxa de administração de 0,5% ao ano (R$79.116,06) e outra de 3% ao ano (R$62.205,10) chega a R$16.910,96.
Note também que conforme o prazo de aplicação aumenta, as diferenças entre os saldos serão maiores.
Porém, fazer essa análise utilizando os valores absolutos não é o ideal, pois os resultados dependerão do valor depositado mensalmente.
Isso significa que quanto maior o valor depositado mensalmente, maior será a diferença absoluta entre os saldos (no nosso exemplo, consideramos depósitos mensais de R$200,00).
Dessa forma, o mais interessante é calcular, percentualmente, qual a diminuição na rentabilidade que um aumento na taxa de administração causa. Isso é apresentado na Tabela 2.
Tabela 2. Variação percentual do saldo líquido
Taxas de administração Variação |
Período 0,5% 3% % |
10 anos R$ 30.501,76 R$ 27.232,82 – 10,71% |
20 anos R$ 79.116,06 R$ 62.205,10 – 21,37% |
30 anos R$ 156.577,12 R$ 107.108,70 – 31,59% |
Notem que a perda de rentabilidade, quando se aumenta a taxa de administração de 0,5% para 3% ao ano, vai de -10,71% em dez anos, chegando a -31,59% em trinta anos.
Em outras palavras, pode-se dizer que depois de três décadas, duas pessoas que investiram a mesma quantia mensal de dinheiro durante esse período, porém uma pagando taxa de administração de 0,5% a.a. e outra 3% a.a., terão um patrimônio final bem diferente.
A pessoa que aceitou pagar uma taxa de administração maior, terá quase um terço a menos (31,59%) da riqueza possuída por aquela com um fundo de menor taxa. E isso está longe de ser pouco!
Importante deixar claro que é essa faixa de taxas de administração que encontramos no mercado, e essas diferenças interferem sobremaneira na rentabilidade final.
Mesmo que o gestor de um fundo que cobre 3% ao ano seja mais competente que o gestor de um fundo que com taxa 0,5% ao ano, o primeiro terá que traduzir essa competência em maiores rentabilidades constantemente, para que consiga superar o fundo com menor taxa de administração.
IMPORTANTE…
Para se ter uma ideia sobre essa questão, calculei qual deveria ser a rentabilidade conseguida pelo gestor de um fundo de renda fixa com 3% a.a. de taxa de administração, para que conseguisse o mesmo montante de dinheiro, em 30 anos, que o gestor de um fundo que cobra 0,5% ao ano de taxa.
Como já visto na Tabela 1, um Fundo RF com taxa de 0,5% ao ano, apresentou um montante de R$156.577,12 em trinta anos, já descontado imposto de renda, remunerando a 6,15% ao ano.
Para que um gestor, cobrando taxa de 3% ao ano, consiga ultrapassar esse montante, considerando o mesmo período e volumes de aplicação, precisaria atingir uma rentabilidade média de 8,9% ao ano.
Isso significa que a possível maior competência deverá ser traduzida em uma taxa de juros 2,75 pontos percentuais acima de seu concorrente que oferece menores taxas. Isso não é tão simples assim, ainda mais em se tratando de renda fixa…
“Come cotas”
Depois de apresentados os impactos de diferentes taxas de administração na rentabilidade dos fundos de renda fixa, será discutida a influência do “come cotas” no saldo líquido final dessa modalidade de investimento.
Interessante relembrar que nos cálculos anteriores o “come cotas” foi considerado. Apenas não foi discutido, o que será feito a seguir.
Para que tal análise seja possível, serão comparadas duas situações:
Situação 1. Aplicação em fundo de renda fixa, com taxa de juros igual a 6,15% ao ano, durante 10, 20 e 30 anos, aplicando R$200,00 mensais e com taxa de administração de 0,5% ao ano (nessa simulação, será considerado o “come cotas”);
Situação 2. Aplicação em renda fixa com as mesmas características que a primeira, porém sem o desconto de 15% semestral (“come cotas”), sendo o imposto de renda apurado apenas no momento do resgate, pela tabela de tributação de renda fixa. Trocando em miúdos, seria uma aplicação nos moldes de fundos de renda fixa, sem o desconto das cotas feito semestralmente.
Os resultados podem ser vistos na Tabela 3.
Tabela 3. Variação percentual do saldo líquido entre Situação 1 e 2
Situação 1 |
Situação 2 |
Variação |
R$ 30.501,76 |
R$ 30.681,63 |
0,59% |
R$ 79.116,06 |
R$ 81.092,67 |
2,50% |
R$ 156.577,12 |
R$ 165.581,23 |
5,75% |
A tabela acima demonstra, em sua última coluna, o quanto a Situação 2 (sem cobrança do “come cotas”) supera a Situação 1, em termos percentuais.
A Situação 2 é aquela em que o imposto de renda só é cobrado no resgate, apresentando saldos líquidos maiores que a Situação 1, quanto mais extenso o prazo de aplicação.
Esse já era um resultado esperado e muito comentado por especialistas, mas tal simulação avança na discussão à medida que quantifica a diferença percentual entre as situações COM e SEM o “come cotas”.
É possível verificar que tal diferença apresenta-se de maior relevância para prazos mais longos, dado que num período de 10 anos a ausência do “come cotas” significaria um aumento de apenas 0,59% na rentabilidade total do período.
Conclui-se, portanto, que o impacto das taxas de administração na rentabilidade final talvez seja algo mais relevante do que a desvantagem representada pelo “come cotas”. Principalmente devido ao fato de que essas taxas variam muito de uma instituição financeira para outra e devermos ficar atentos.
DESAFIO
Um bom exercício financeiro seria comparar as rentabilidades passadas de fundos de renda fixa em diferentes bancos e corretoras, fazendo um cruzamento com suas respectivas taxas de administração (geralmente, nas tabelas de rentabilidade, já vem descontada a taxa de administração).
Assim, poderíamos avaliar se a competência de um gestor supera a cobrança de maiores de taxas. Feito o desafio. Quem se habilita?
Por hoje é só pessoal.
No próximo artigo serão feitas as simulações com Fundos de Renda Fixa.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!