Antes de iniciar o artigo, apresento-lhe três casos a seguir:
1) Jorge decide fazer o controle de seu orçamento doméstico, anotando suas receitas e despesas diariamente. Passadas duas semanas, ele DESISTE.
2) Angélica toma a decisão de ser uma pessoa mais organizada, passa o dia arrumando suas coisas, etiquetando, criando diversas pastas e deixa tudo em ordem. Depois de um mês de dedicação, DESISTE, sendo que semanas depois volta tudo à mesma bagunça de sempre.
3) Paulão, um obeso desde muito jovem, inicia uma dieta rigorosa, na busca de perder vários quilos. Sonha com comida, se esforça para manter a rotina de alimentação saudável e exercícios e, numa primeira crise de estresse, DESISTE, joga tudo para o ar e volta a comer de maneira contumaz.
Pois bem, em todos os casos temos as mesmas características: a tentativa de uma mudança abrupta nos hábitos diários e um fracasso ao seu final. Mas qual seria o motivo desses acontecimentos tão corriqueiros em nossas vidas e daqueles que nos cercam? Alguns diriam: FALTA DE FORÇA DE VONTADE. Até pode acontecer, mas talvez não seja apenas isso.
O autor George Leonard, em seu livro Mastery: the keys to success and long-term fulfillment (traduzido no Brasil como Maestria: as chaves do sucesso e da realização pessoal) oferece uma explicação um pouco menos óbvia, sugerindo o conceito de Homeostase para explicar muitos desses casos.
Homeo significa igual e stasia estado. Logo, homeostase significaria uma tendência dos sistemas biológicos em resistir a mudanças, ou seja, uma busca ao equilíbrio (à estabilidade). Isso implicaria, segundo Leonard, que por questões fisiológicas os seres humanos tendem a oferecer equilíbrio ao corpo, mesmo que inconscientemente. Também cita que já existe quem empregue o termo homeostase social, em que o próprio meio em que o indivíduo vive, através de normas, conselhos, punições, privilégios etc, acabam por fazer com que o indivíduo regrida a quaisquer tipo de mudanças bruscas.
Portanto, uma característica biológica, que extrapola para outros campos, como o social, acaba fazendo com que muitas pessoas se acomodem e aceitem as coisas como elas são. Sendo assim e voltando aos exemplos do início do texto, devido à homeostase, Jorge aceitaria sua “sina” de nunca conseguir guardar dinheiro, Angélica sua característica “imutável” de desorganizada e Paulão seu “destino” de gordo. Com tais aceitações, aceitar o fracasso torna-se mais cômodo e as mudanças perdem sua justificativa.
O problema de tudo isso é que, apesar de a homeostase ser fundamental para a manutenção da vida dos seres vivos, explica Leonard, ela não faz distinção se permanecer no status quo é benéfico para nossas vidas ou não. Ela simplesmente diz DESISTA, toda vez que uma mudança brusca é delineada pelo indivíduo, mesmo que essa atitude seja algo positivo. É o próprio corpo/mente sabotando a si.
Dessa forma, chega-se a conclusão de que mudar, realmente, não é nada fácil. Existirão sempre barreiras fisiológicas e psíquicas a lhe atormentar: é a homeostase agindo. E esse fenômeno será ainda mais danoso às tentativas de mudanças, se o perfil da pessoa colaborar com a manutenção do estado, digamos, “normal”. Ser uma pessoa acomodada, por exemplo, apenas potencializa os efeitos.
Mas como ser livrar dessa característica inerente ao ser humano, quando a mudança desejada é, claramente, positiva para ele. Leonard dá algumas dicas:
1) Compreenda como a homeostase funciona, e quando sentir algum sinal que pareça lhe empurrar para trás, fique feliz, você realmente está mudando.
2) Negocie com sua resistência a mudanças, dando um passo para trás, sempre que desejar dar dois a frente. Tenha determinação sem perder a consciência de suas limitações. Não importa de onde venha a resistência (do corpo, família ou sociedade), esteja firme e preparado para negociar.
3) Desenvolva um sistema que lhe auxilie na mudança. É sempre bom ter alguém para avaliar se a mudança está caminhando para o rumo certo e dar incentivos.
4) Pratique, pratique e pratique. Ganhamos estabilidade na mudança quando praticamos. A prática é a base para tornar uma ação um hábito, que não exija esforço, nem dispêndio de energia desnecessariamente. Ao criar o hábito de praticar, novas mudanças serão mais fáceis de serem implementadas.
5) Dedique-se ao aprendizado, SEMPRE. Aprender é muito mais que ler um livro. Aprender é MUDAR, pois educação é um processo de mudança. Um aprendiz vitalício é aquele que aprende a conviver com a homeostase, simplesmente porque aprende o tempo todo.
É isso aí pessoal. Reconheça as barreiras que lhe impedem de começar a guardar dinheiro, enfrente-as e crie hábitos financeiros saudáveis. A dica está dada.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.