O presente artigo é continuação do artigo O homem e o sábio (Parte I)
No dia seguinte, Juca volta ao lugar marcado com o Sábio e ambos recomeçam a conversa do ponto onde pararam.
JUCA: Olha seu Sábio, quase que não consegui dormir essa noite, pensando nas coisas que me dissera ontem, e fiquei curioso sobre essa questão da administração da energia. Poderia me falar um pouco sobre isso?
SÁBIO: Primeiramente, boa tarde.
JUCA: Opa, desculpe-me, o dia foi tão corrido que me esqueci de lhe cumprimentar. Boa tarde!
O Sábio deu um sorriso acalentador e prosseguiu.
SÁBIO: Então Juca, antes de eu lhe explicar sobre energia, gostaria de perguntar algo: diga-me uma coisa que pudesse fazer para melhorar sua vida, todos os dias, e não está fazendo.
Juca pensou por um instante e respondeu.
JUCA: Creio que poderia dar mais atenção à minha família.
SÁBIO: E por que não o faz?
JUCA: Olha seu Sábio, a situação lá no meu emprego está um caos. Muito problema para resolver; parece que tudo cai sobre mim. Daí, chego em casa cansado e apenas querendo tomar um banho. Descansar. Meus filhos e esposa não falam nada diretamente, mas sinto em seus olhares que me queriam mais presente.
SÁBIO: Pois bem, então poderia eu dizer que sua família, apesar de ser uma prioridade, não está sendo tratada como tal?
JUCA: Não creio que esse ponto de vista seja o mais correto. Pense sob a seguinte ótica: minha família tanto é a maior prioridade, que tudo o que suporto de estresse em meu trabalho é por eles. Todo o dinheiro que ganho: gasto com eles. Logo, estão no centro de minhas prioridades. Isso não faz sentido?
SÁBIO: Se levarmos em consideração o senso comum, talvez seja. Trabalha-se como um louco para o sustento da família. O problema é que não sobre energia para lhe prover uma das coisas que mais necessita: atenção.
Nesse momento é possível verificar um grande impacto no semblante de Juca. Seu olho marejou. Mas ele respirou e continuou o diálogo.
JUCA: Eu sei que atenção é importante. Mas colocar comida na mesa, pagar os estudos de meus filhos, e todo o resto, nesse momento creio ser a prioridade, ou seja, meu principal papel de pai, de provedor. Não posso fugir dessa responsabilidade. E um dia, pelo menos meus filhos, vão ter orgulho de todo o sacrifício que fiz por eles.
SÁBIO: E se eles não reconhecerem todo esse sacrifício, de quem será a culpa?
JUCA: Ahhhh, não me venha falar que será minha.
SÁBIO: Não vejo de quem mais!
Juca sentiu vontade de xingar o Sábio, mas se conteve. Não poderia estragar a conversa naquele momento, sem fazer a pergunta principal.
JUCA: Olha Sábio, mas o que tudo isso tem a ver com administração de energia? Não fuja do tópico que vim aqui para conversarmos.
SÁBIO: Veja sua fúria para comigo. Estou aqui para conversar e está gastando uma energia imensa com alguém que quer lhe ajudar. Fico aqui pensando, quanto de energia não gasta em outras situações mais complicadas…
Nesse momento, é indescritível detalhar a feição do rosto de Juca.
JUCA: Desculpe Sábio, estressar-me talvez seja um pouco de “força do hábito”.
SÁBIO: Esse é exatamente o ponto, Juca. Você precisa focar em seu comportamento do dia a dia, ou seja, em seus hábitos. Diga-me, rapidamente, alguma atividade que lhe consome bastante energia ao longo do dia?
JUCA: De longe, resolver os problemas causados pelos meus subordinados. Eles parecem que não entendem o que eu falo e acabam por errar muito durante o dia. Daí preciso ficar resolvendo esses problemas e não me sobra tempo para fazer o meu trabalho.
SÁBIO: Hummm, interessante.
JUCA: Interessante não. Estressante.
O Sábio deu outro sorriso doce e continuou.
SÁBIO: Que tal se seguisse um conselho meu. A partir de amanhã, ao invés de gastar energia esbravejando e resolvendo problemas dos outros, que tal se usasse essa energia para descobrir por que seus funcionários erram tanto?
JUCA: Por que são uns incompetentes…
SÁBIO: Isso é um ponto de vista seu. Talvez para eles, as coisas não estejam tão claras.
Agora Juca fez uma cara de pensador grego. Ficou quieto por mais de um minuto, apenas pensando, pensando.
JUCA: Deixe-me ver se entendi a mensagem que está querendo passar. Se eu parar de me estressar com pequenos problemas, que não são minhas prioridades, fatalmente sobrará energia para que eu possa utilizá-la para o que é realmente importante: minha família. Estou correto?
SÁBIO: Talvez esteja começando a entender o que significa a tal da administração de energia. Agora, de nada adianta entender e não colocar isso em prática.
JUCA: É… na teoria faz sentido, mas acho difícil que dê certo na prática. Geralmente, as coisas só funcionam na base da truculência.
SÁBIO: Para uma pessoa em sua situação, não custa tentar.
JUCA: Ok seu Sábio. Vou tentar por alguns dias. Se der certo, volto a lhe procurar.
SÁBIO: Sinta-se à vontade, estou sempre por aqui.