Evitando brigas entre o casal, por causa de dinheiro.
Certa vez, recebi e-mail com depoimento de um leitor, que julgo ser algo bastante emblemático.
Transcrevo-o (adaptado) logo abaixo:
“Professor, tenho acompanhado seu blog e tentado colocar em prática alguns conceitos. Infelizmente, ainda cometo alguns erros de forma consciente. Tenho duas situações para compartilhar:
1) tenho uma previdência privada no Banco do Brasil com uns 10 meses de contribuição. Estou trocando de carro, tenho um 2006 que está dando muita manutenção. Vou pegar um zero. Não que eu acredite ser a melhor escolha, mas creio que assim posso ficar um tempo maior com ele. Darei o meu e financiarei 20 mil em 24 meses, sendo que ao final terei pago uns 4,5 mil de juros. A dúvida é: vale a pena sacar minha embrionária previdência para pagar as parcelas retroativas e diminuir ainda mais o valor pago em juros? Confesso que não estou muito disposto a isso. Tenho 31 anos e contribuo há pouco tempo com 850 reais mensais.
2) A outra questão é com relação a minha esposa. Ela precisa urgentemente de educação financeira mas não consigo colocar isso em sua cabeça. Não sei o que fazer. Ela é fisioterapeuta e trabalhava para a prefeitura por contrato. Ao término do contrato teve que partir para a carreira de autônoma e não tem tido sucesso na administração do negócio. Tenho tentado ajudar, já dei o livro que você citou (Casais inteligentes enriquecem juntos – Gustavo Cerbasi) e já indiquei outras fontes de leitura. Nada. Estamos desgastando nosso relacionamento por conta disso. Eu tenho minhas contas todas em rédea curta, sem dívidas e com alguns investimentos. Comprei um lote a pouco tempo, tenho a previdência… Ela tem um financiamento no banco que comprou os equipamentos do consultório, um FIES (que eu pago) e só anda murmurando da vida“
O QUE FAZER PARA AJUDAR O CASAL?
O relato acima é tão, mas tão comum em nossa sociedade, que resolvi colocá-lo por inteiro, mesmo correndo o risco que este post fique um pouco longo.
Irei analisar o problema do casal pela ótica de dois componentes principais: 1) decisão técnica; 2) e outra com características comportamentais, tando do leitor, como da esposa.
Farei meus comentários a seguir.
QUESTÃO TÉCNICA
De forma geral, é sempre um bom negócio tirar dinheiro de investimentos para pagar dívidas. Isso tem sua razão pelo fato de as taxa de juros serem, na grande maioria das vezes, maiores que a rentabilidade dos investimentos. Porém, nessa decisão existe um fator agravante a ser considerado: investimentos em previdência são severamente tributados em situações de curto período de tempo – mais informações podem ser colhidas no Especial Investimentos publicado nesse site.
Será preciso fazer as contas levando-se em consideração o regime de tributação (progressivo ou regressivo) e a modalidade da previdência, PGBL ou VGBL, lembrando que a primeira tem sua tributação incidente sobre o total aplicado. Se as perdas forem de pequena monta, isso indicará que a decisão de retirar o dinheiro da Previdência deverá ser a melhor opção. Do contrário, talvez arcar com as parcelas do financiamento e deixar o dinheiro aplicado seja a melhor escolha. Seriam necessárias informações detalhadas para uma análise técnica mais correta.
QUESTÃO COMPORTAMENTAL
O comportamento das pessoas, na minha opinião, é a principal causa de suas dificuldades financeiras. Muito mais que fatores como baixo salário, cenário econômico etc.
O primeiro problema que noto está nas próprias atitudes do leitor. Apesar de se considerar uma pessoa que “mantém as contas em rédeas curtas”, está pensando em fazer um negócio em que entra com seu carro usado e ainda irá financiar R$20 mil. Oras, ou o carro atual está aos frangalhos e valendo pouquíssimo, ou o carro zero que está pensando em comprar não é dos mais baratos (acredito muito que o caso se enquadre nesta segunda hipótese).
O que estou querendo dizer é que provavelmente, às custas da argumentação que o carro atual está dando muita manutenção, está optando por um carro em valor muito acima do que poderia obter, se realmente tivesse a tal “rédeas curtas”. Além disso, é possível diagnosticar uma falta de planejamento financeiro, pois inicia uma previdência e 10 meses depois pensa em sacá-la para efeito de uma troca de carro. Perceba, portanto, que o reclamante não se enquadra como um exemplo a ser seguido em se tratando de administração financeira pessoal. Ele até reconhece seu “erros conscientes” e admite isso ao comentar sobre a troca do carro: “Não que eu acredite ser a melhor escolha”.
No caso da esposa, o problema é ainda mais delicado. Existem muitos casais que entram em conflito pessoal, tendo como origem problemas financeiros. Enquanto namoram e as contas estão separadas, o amor os faz relevar certas diferenças comportamentais, que vão eclodir anos depois. Não sou psicólogo nem especialista em conflitos de casal, mas creio que a melhor saída seja o DIÁLOGO. De alguma maneira, para que o relacionamento seja duradouro, é preciso encontrar um meio termo que satisfaça a ambos e que, ao mesmo tempo, seja salutar para as finanças pessoais do casal.
Bem pessoal, é isso.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
#DICA: quando falamos sobre brigas de casal, conflitos de casal, ou seja, de problemas envolvendo relação a dois, muitas vezes encontramos diferentes formas de encarar a vida. Se concorda com isso, veja o artigo: “Razão e Sensibilidade“
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