Viajar a passeio é investimento ou despesa?
Como todo economista que se preze, respondo a essa pergunta com um sonoro DEPENDE.
Pensando estritamente em fluxo de caixa, uma viagem a passeio significa somente despesa, pois ocorrerão apenas saídas de recursos e nenhuma entrada.
Já sob a ótica de capital humano, isto é, de capacidade de transformação da pessoa para melhor, depende de um contexto um pouco mais complexo, dissecado a seguir.
Viagem de mínimo custo e máximo retorno
Não sei se alguma pesquisa já mediu o que vou dizer, mas acredito que boa parte das pessoas que fazem viagem a passeio, busca apenas entretenimento, distração e/ou descanso. Deseja-se apenas aliviar o estresse de uma longa jornada de trabalho, renovando as energias para a que há de vir. E o dinheiro? Deve ser gasto sem miséria, pois não faz sentido em economizar nessas ocasiões. Pensa-se: “se for viajar para ficar mendigando, nem vá”.
Nada contra com quem age dessa forma, mas o intuito do presente artigo é explorar outras dimensões no tocante ao planejamento de um passeio. Significa programar a viagem com bastante antecedência, diminuindo os custos financeiros e maximizando o retorno em capital pessoal, intelectual, seja lá qual nome quiser dar para isso. Para tal, dedicarei as próximas linhas para lhes contar um caso pessoal.
Uma viagem de um ano pela Europa
A seguir, irei descrever os pontos mais importantes do planejamento de uma viagem para a Europa, realizado por este autor que lhe escreve.
A escolha do local
O início de tal viagem deu-se em julho de 2012, quando eu e minha noiva decidimos fazer um passeio por alguns países da Europa. Devido às nossas atividades profissionais, tal acontecimento só poderia se realizar, de fato, em julho de 2013, sobrando-nos um ano para o planejamento.
Dessa forma, já em julho de 2012 começamos nossa viagem, porém, pela internet – decidindo os locais a serem desbravados. Fotos, vídeos e textos sobre Paris, Londres, Amsterdã, Berlin, Barcelona, Madri, Roma, dentre outros, foram por diversos dias saboreados, ora individualmente, ora em conjunto. Tínhamos o mundo em nossas mãos. Desdenhávamos de certos lugares como se os conhecêssemos intimamente, e nos apaixonávamos por outros à primeira vista.
Foram dias de bastante aprendizado sobre história, culinária, geografia e cultura de cada cidade pesquisada – além do prazer de fazermos tudo isso juntos, aliviando o estresse do dia a dia e aprendendo coisas novas. Depois de muitas pesquisas, elegemos nossos destinos prediletos. Foi aí que começou a segunda parte da viagem: comprar as passagens.
Comprando as passagens
A internet, atualmente, nos permite uma grande facilidade para fazer tudo sozinhos, sem depender de agências de viagem para compra de passagem, seguros etc. É possível simular rotas, horários e dias diferentes, em busca do melhor preço. A estratégia de pegar voos com conexão/escala para diminuir os custos foi utilizada.
Se você não conhece tal artimanha, explico: geralmente voos com conexão/escala são mais baratos que os diretos; o interessante em escolher essa opção não é só o preço em si, mas buscar voos com conexão/escala em cidades que também queira visitar; se, por exemplo, você quiser ir para Amsterdã e achar um voo que saia do Brasil, com escala em Paris, pode simplesmente ligar na companhia aérea dizendo que irá desembarcar em Paris e pegar o avião para Amsterdã dias depois.
Há uma diferença de taxa de embarque a ser acertada, mas geralmente sai mais barato que fazer um voo Brasil/Paris, para só depois comprar outra passagem Paris/Amsterdã. É questão de pesquisar, simular e ter paciência. Na rota que escolhemos para nossa viagem, essa estratégia funcionou a contento.
Pois bem, depois de dias de pesquisa, as passagens foram reservadas e começaram a ser pagas, bem antes da viagem, para aproveitar os preços mais baixos – no caso de passagem aérea, sempre que se compra de véspera, principalmente em alta temporada, o preço será muito mais caro.
Etapa de compra de passagens vencida, chegou a hora de saber onde ficar.
Reservando Hotéis
Com as datas em mãos, permitindo saber quando estaríamos em cada cidade escolhida, começamos mais uma etapa importante: onde ficar? Em outras ocasiões, mais novo e com menos recursos financeiros, eu já havia ficado em albergues (os tais Hostels), que possuem um preço bastante em conta e um conforto que deixa muito a desejar – obs: sempre fechei todas as reservas pela internet e nunca tive problemas.
Porém, como agora seria uma viagem em casal, precisávamos de algo diferente do que dormir em beliches, dividindo quarto com vários estudantes, e com banheiros comunitários. Então, iniciamos nossa busca por hotéis que atendessem aos seguintes parâmetros, em ordem de importância: preço em conta, bem localizado (é uma furada ficar longe dos locais a serem visitados, e também de transportes públicos como o metrô) e que tivessem um mínimo de conforto.
Foi então que começou uma longa pesquisa pela internet, cidade por cidade, através de sites como o Expedia. Selecionávamos primeiramente por preço, depois víamos a localização, para em seguida ler os comentários das pessoas que por lá já passaram. Ler esses comentários nos foi muito útil, pois parece ter nos livrado de péssimos hotéis. E o mais bacana de tudo isso, apesar de parecer ser algo entediante, foi muito prazeroso para o casal e nos deu ainda mais conhecimento sobre a cidade a ser visitada.
Depois de muita pesquisa, reservamos os hotéis – o pagamento é realizado pelo cartão de crédito, podendo ser o total à vista, ou em alguns casos dá-se uma entrada e acerta-se o restante no próprio estabelecimento; é importante imprimir as confirmações de reserva que chegam por e-mail e possuem todas as informações relevantes.
Passagens compradas e hotéis reservados, ainda precisávamos comprar Euros.
Comprando Euros
Acostumado com a imprevisibilidade do mundo dos investimentos, nem perdi meu tempo em procurar conselhos de gurus que buscassem prever se a cotação do Euro iria cair ou subir nos meses vindouros. Eu e minha noiva fizemos uma estimativa de quanto gastaríamos em toda a viagem, e decidimos comprar um pouco por mês, como forma de diluir o risco de grandes variações cambiais.
Para dar uma ideia desse processo, minha primeira compra ocorreu em janeiro de 2013, adquirindo Euro a R$2,87. E de tempos em tempos eu comprava mais dessa moeda, sendo a menor cotação conseguida de R$2,60 no início de maio, e a maior de R$3,01 em junho. Na média ponderada de todas as compras realizadas, acabei pagando R$2,76, e não me arrependo da estratégia utilizada.
O que visitar em cada cidade
A parte mais interessante de toda essa jornada de um ano foi estudar cada cidade. O que visitar? Qual a história do local? Quais as comidas típicas? E todo o resto que nos fará realmente saborear cada lugar visitado, como se nos fosse íntimo. Assistir filmes e documentários que contextualizarão a viagem, ler guias, aprender algumas palavras-chave de cada idioma… todos esses esforços se destinam a fazer do passeio um investimento, ao invés de apenas entretenimento e descanso.
Considerações finais
Para finalizar o artigo, não tinha a intenção de falar da viagem em si, mas sim de seu planejamento – que considero como parte integrante do passeio. Fiz questão de compartilhar com os leitores desse blog uma visão ampla e organizada de uma viagem para o exterior, mas que pode ser aplicada a qualquer projeto desse tipo. O importante é aproveitar ao máximo cada experiência, fazendo com que o planejamento atinja o mínimo custo e o máximo de retorno pessoal possível.
Espero que tal experiência seja útil para seus próximos roteiros.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.