Hoje estava ouvindo uma música do Raul Seixas, que já em seu início dizia:
“Tem que acontecer alguma coisa neném
Parado é que eu não posso ficar
Quero tocar fogo onde bombeiro não vem
Vou rasgar dinheiro
Tocar fogo nele
Só pra variar”
Depois de sugerir botar fogo em dinheiro, fiquei imaginando: o que Raulzito pensaria de meu blog?
Se fosse para dar um palpite, creio que ele o acharia um tanto enfadonho. Muito cheio de regras: não gaste, aja racionalmente, controle, planeje. Não conheço a fundo a biografia do cantor, mas acho que tais palavras não o encantariam tanto.
E a visão de finanças pessoais como algo aborrecedor e sem poesia é compartilhada por muita gente de grande saber. Ter uma vida repleta de regras, planejamento de longo prazo, em que tudo parece estar sob controle, não se encaixa no estilo de vida de uma boa parcela de pessoas. E isso acaba por gerar uma nova segregação social: de um lado os “financeiramente corretos” e de outro os que não são.
Os “financeiramente corretos” administram risco, possuem objetivos e percebem seu patrimônio crescer ao longo do tempo. Admiram Warren Buffet e Steve Jobs. Possuem planilha de orçamento doméstico. Enxergam carro como passivo e por aí vai.
Já os que não se encaixam nessa categoria de “bons moços”, não são apenas os endividados. Existe uma gama de pessoas que não encontram sentido algum em adotar um estilo de vida baseado no que os educadores financeiros entendem ser o correto. Muito menos os ídolos são os mesmos.
Não sei se estou sendo claro o suficiente, mas o que estou querendo expor é que a música do Raul Seixas me fez refletir que o ensino de educação financeira, nos moldes que conheço e propago, talvez não sirva para um número considerável de indivíduos, pelo simples fato de optarem por um estilo de vida diferente dos “financeiramente corretos”. E será que podemos dizer que os avessos ao planejamento financeiro são menos felizes que aqueles que poupam? Creio ser uma pretenção muito grande julgar o que é ou não correto.
Obviamente não estou fazendo apologia ao descontrole financeiro, mas apenas constatando a diversidade de opiniões e respeitando-a.
Talvez, seria mais interessante para Raulzito uma visão menos compromissada sobre finanças pessoais, tal qual escrevi em entrevista para o blog Finanças Forever minutos atrás.
Decidir como e onde gastar seu dinheiro é uma ARTE, e como tal deve expressar a opinião do artista. O meu papel enquanto educador financeiro é oferecer informações financeiras relevantes e trazer à pauta reflexões sobre o papel do dinheiro no mundo capitalista em que vivemos. Consciente das opções existentes, cada um constrói sua própria história, sua própria obra de arte.
É isso aí. Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.